BRASIL: UMA PANELA DE PRESSÃO (OU ESTAMOS PERDIDOS)

O QUE ACONTECERÁ QUANDO A PANELA DE PRESSÃO EXPLODIR?

(SEM) INSPIRAÇÃO

HOJE ACORDEI INSPIRADO. MAS ACHO QUE EXPIREI.

SOBRE SER CULTO

A VIDA NÃO SE RESUME AO FACEBOOK.

A REVOLUÇÃO DOS MACACOS

SOMOS TODOS MACACOS, ALGUNS MAIS MACACOS QUE OUTROS.

NU

HOJE ME DEU VONTADE DE ESTAR NU.

29 outubro 2014

O homem é uma ilha

Dia 29 de outubro de 2014

Há gente de luto,
gente que briga;
birra.
Há gente que luta.
A cada quatro,
durante os quatro,
e sem data marcada;
Esporádica.
Aquele que gosta de grandes eventos,
das grandes passeatas,
do que é mega.
Há quem queira separação do país,
ou no casamento,
ou apenas dos recicláveis e não recicláveis.
Separação dos pais, jamais.
Há muitos países dentro do país.
Muitas mentes em nossas mentes.
Há muitos que mentem.
E quem nunca mentiu?
Há quem critique os outros,
dizendo que estamos nos transformando em uma pequena ilha.
Há gente estudada e ignorante.
Humilde e ignorante.
Ignorante e ignorante.
De fato, nós já somos Cuba.
Pois o homem é uma ilha.
Cercado por todos os lados de sua própria ignorância.

27 outubro 2014

Eleições 2014: Há uma vaga na política

Dia 27 de outubro de 2014

Na eleição presidencial mais disputada da história da democracia brasileira, o governo continuou governo, com a reeleição de Dilma Roussef (PT). A oposição continuou oposição, com a votação expressiva e fortalecimento do PSDB, através de seu candidato Aécio Neves. Mas a chamada "terceira via", representada nas duas últimas eleições principalmente por Marina Silva (no PV em 2010 e no PSB em 2014), pode estar vaga.

Marina Silva é a grande derrotada das eleições de 2014. Logo que assumiu a chapa do PSB após a morte do então candidato Eduardo Campos, a acreana despontou nas pesquisas como a favorita, e foi perdendo fôlego ao longo da disputa, não chegando sequer ao segundo turno. Se em 2010, sua terceira colocação representou uma vitória, em 2014 essa mesma posição lhe conferiu perda de capital político. Seria muito achismo dizer que Marina Silva está fora, mas será que ela ainda terá força para representar uma mudança tendo recebido um revés tão potente quanto este? Para piorar sua situação, ninguém sabe ao certo por quanto tempo permanecerá no seu atual partido, ou ainda se conseguirá legalizar a REDE, sua sigla autoral, que antes de existir já aparenta estar dividida.

De qualquer forma, há um espaço vago na política brasileira. Se não Marina Silva, quem?

Conseguirá o PSOL, após seu leve fortalecimento neste ano e com a repercussão gerada nos grandes centros pela candidatura de Luciana Genro à presidência, se igualar ou superar a eleição de 2006, quando a então candidata Heloísa Helena conquistou quase 7% dos votos válidos? Ou será que a bancada evangélica e conservadora lançará algum nome capaz de apagar a votação pífia recebida pelo Pastor Everaldo (PSC)? Ressurgirão nomes das últimas eleições, como Cristovan Buarque (PDT), Anthony Garotinho (PR) ou Ciro Gomes (atual PROS), ou surgirá um novo nome de expressão nacional na política?

PT e PSDB têm cadeira cativa para 2018. Falta mais um convidado a ser chamado.

08 outubro 2014

Mais quatro

Dia 8 de outubro de 2014

Nesta quarta,
Quatro para as quatro,Descobri que,
Por mais quatro,
Estaremos de quatro
Para os quatro - ou mais
Que detém os quatro poderes.

Mas nao ficarei em meu quarto
Dormindo em meu quarto sono. 
Andarei pelas quadras
Com mais quatro, quarenta ou quatrocentos. 
Descalços ou calçados
No chão de asfalto, terra ou quatzo.
Levantaremos nossas bandeiras.
Vindas dos quatro cantos de nossa nação.
Ou não.

06 outubro 2014

Eleições 2014: A hegemonia da lactose

Dia 6 de outubro de 2014

Não há como contrariar. O centro do país é a região sudeste. Tanto em número de habitantes - e, consequentemente, eleitores - quanto economicamente. Historicamente, isso também se confirma. Em especial quando se olha para as origens da República, de 1894 a 1930, quando se instalou no país a chamada política do "café com leite", quando governantes paulistas (maiores produtores de café) e mineiros (maiores produtores de leite) se revezavam no poder.

Os tempos são outros, mas o centro político é o mesmo. Muito se fala da polarização real entre PT e PSDB, mas ela existe também entre MG e SP. Desde a primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso, em 1994, essa política é reproduzida. FHC é carioca, mas fez sua carreira política em São Paulo, tornando-se senador pelo estado em 1983. O resto da história, todos conhecem. Após o impeachment do alagoano Fernando Collor de Melo, o último a se eleger fora do eixo MG-SP, foi o vez do mineiro Itamar Franco assumir por dois anos a presidência. Essa pitada de leite no cenário político nacional não durou muito. FHC ganhou destaque como Ministro da Fazenda, vencendo duas eleições seguidas para o cargo majoritário do país, colocando de vez a cafeína de volta ao executivo nacional. Logo após, mais 8 anos de governo Lula, nordestino de nascimento mas paulista de formação política.

Entretanto, após 16 anos, a cafeína foi substituída pela lactose. Com aliados desgastados por escândalos, Lula foi obrigado a indicar um nome, até então, fora dos grande holofotes: a mineira quase gaúcha Dilma Rousseff. Rousseff venceu os "políticos do café" em sua primeira eleição. Se sua tentativa de reeleição ainda não está decidida, uma coisa é certa: haverá mais lactose nos próximos anos. Seu adversário, o tucano Aécio Neves, fez sua carreira política no estado dos produtores de leite, Minas Gerais. Se nos anos de 1994, 1998, 2002 e 2006, os dois principais candidatos eram representantes da políticas paulistas, e se em 2010 essa disputa ficou dividida, nessas eleições o que se vê é a hegemonia da lactose.

Ainda que Dilma Rousseff não seja filha legítima da política mineira, já que sua vida pública ganhou contornos em terras gaúchas, sua militância teve início em Minas Gerais. E é bastante curioso o fato de que há 22 anos, nenhum político que não tenha uma trajetória marcada por momentos importantes em São Paulo ou Minas Gerais chegaram ao posto mais alto da nação. O cearense Ciro Gomes, a alagoana Heloísa Helena e a acreana Marina Silva fracassaram. 

Em 2014, ninguém sabe ao certo quem sairá vencedor da polarização PT-PSDB. Mas, do outro lado, já sabemos que Minas Gerais será o novo centro político do país. Só espero que o Brasil não tenha intolerância à lactose.

23 setembro 2014

Eu não entendo de política (Ou quer que eu desenhe?)

Dia 23 de setembro de 2014

Eu não entendo de política. Não mesmo. Sou, no máximo, bem informado. E digo mais: desconfie de quem diz entender.

Desconfie de quem usa os termos "tucanalha" e "petralha" para justificar suas escolhas.

Desconfie de quem critica programas sociais sem nunca ter pisado em uma comunidade. Desconfie também - por que não? - daqueles que já pisaram.

Desconfie da pessoa que, ao encontrar alguém que compartilha de sua opinião política, diz "até que enfim encontrei alguém inteligente!". Subestimar a interpretação de mundo dos outros não é algo inteligente. Superestimar sua própria visão da realidade não é algo inteligente.

Desconfie de quem coloca o nome de um candidato na foto de perfil do Facebook. Das duas, uma: ou é um romântico ou está ganhando algo para promover o candidato.

Desconfie daquele que diz votar em branco como forma de protesto, mas nunca integrou manifestações que reivindicavam melhorias.

Política se discute, sim. Mas não é uma ciência exata. Ser agressivo em suas colocações não é debater, mas impor. Sarcasmo e política dificilmente se encaixam. Nunca dê um "ou quer que eu desenhe?" como resposta àquela pessoa que fez uma pergunta ou comentário estúpido. Sarcasmo não é argumento. Argumento esclarece e faz pensar. Sarcasmo apenas afasta.

Por fim, desconfie também de seu candidato. Antes, durante e depois das eleições. A desconfiança é a principal arma do eleitor contra a alienação tão perceptível nessa época. O candidato está lá para trabalhar em prol de seu eleitor e ser questionado. Exercite seu direito de desconfiar. Ou quer que eu desenhe?

18 setembro 2014

Os consumidores da violência cotidiana

Dia 18 de setembro de 2014

"Falta alguém espremer o jornal pra sair sangue", cantava o sambista Roberto Silva no ano de 1961. A música "Jornal da Morte", composta por Miguel Gustavo e interpretada também por Nação Zumbi e Casuarina, ainda está muito atual, denunciando os meios de comunicação por se aproveitarem do sofrimento do povo para se promover. 

Datena, Marcelo Rezende e outros apresentadores locais se destacam por enfatizar a morte e a violência a todo momento. O assassinato da desconhecida da esquina se transforma em matéria de nível nacional, que é sucedida pela morte chocante de trânsito do Seu Joaquim, e depois por outra matéria, e por outra, e por outra. Pois o fato, por si só, não se sustenta, já que tratam a violência cotidiana exclusivamente como caso policial, e não social. "Tem que ir pra cadeia", esbraveja o apresentador. "É tudo bandido", berra o outro. Encarnam personagens aparentemente super-poderosos, mas com discurso que cai no lugar-comum, acrítico e raso. 

Porém, se há programas e apresentadores com esse tipo enfoque, é porque há quem consuma a informação, e isso diz muito a respeito de nós. Quem são estes consumidores vorazes da tragédia cotidiana? Qual o conteúdo de publicações que você anda compartilhando em seu Facebook?

A criticidade desses telespectadores, leitores e internautas dos pequenos desastres diários é superficial. A violência é sempre problema dos outros, e eles são apenas as vítimas. São pessoas de bem. Classe média, trabalham, cuidam de sua família de forma tradicional. Assistem a programas sobre o que não é, com discursos que não são. Vivem suas vidas de forma perfeita. Pagam os impostos absurdos sem reclamar ou protestar e dizem, com orgulho, que são cidadãos exemplares. Para eles, todo político é ladrão. Toda passeata é de vagabundo. Dizem que o povo "precisa acordar" e que bom mesmo é a meritocracia. São meros reprodutores de discursos. E, de tanto consumirem violência, acabam perdendo a capacidade de se chocarem. São seres apáticos e indiferentes socialmente.

Se, segundo o dito popular, "mente vazia é oficina do diabo", o que dirá dessas mentes, ocupadas pelo que há de mais sórdido e cruel da vida dos achados anônimos de nossa imprensa?

10 setembro 2014

Cristofobia

Dia 10 de setembro de 2014

Preciso desabafar.

Já não consigo mais esconder. Sou cristão. Seria mais fácil ao contrário, eu sei. Não precisava me expor dessa forma, eu sei. Mas é complicado pra mim viver meias verdades. Tomei essa decisão de me declarar publicamente cristão para me sentir liberto, completo. Ao contrário do que pensam, não escrevo este texto para aparecer, chocar ou repercutir. Escrevo para, pela primeira vez, conseguir ser quem eu sou.

É difícil ser cristão hoje em dia.

Nossas igrejas, nossos locais de culto, não são bem vistos. A burocracia para criá-los é muito grande, e justamente por isso há tão poucas igrejas, templos e salões em meu bairro, em minha cidade. Os impostos são absurdos.

A cristofobia é um mal que assola nossa comunidade. Quando ando com minha bíblia embaixo do braço, logo vem olhares me fuzilando, me condenando por eu não pertencer à moral vigente da sociedade. Muitos amigos meus tem dificuldade para contar a seus pais que são cristãos. A aceitação é algo complicado. Aceitar o diferente é algo complicado. Alguns - pasmem! - foram até expulsos de casa. O pior não sei se é o preconceito explícito, aquele que xinga, constrange, expulsa ou mata nossos irmãos cristãos, ou aquele velado, presente no discurso "Eu amo todo cristão, mas não a sua cristandade". Isso não é um discurso de amor fraterno meus caros agnósticos, umbandistas, candomblecistas, budistas, ateus, wiccas e naturalistas fundamentalistas. Isso é um discurso cristofóbico. 

Eu prefiro acreditar que nasci cristão. A ciência ainda não conseguiu provar se a pessoa já nasce ou se torna ao longo da vida. Quiseram já propor um estudo que relacionava a localidade de nascimento com a religião seguida pela pessoa. Tentaram chegar a conclusão que quem nasce em países latinos tende a se ser cristão, assim como quem nasce no Japão tende a ser budistas e quem nasce na Suécia tende a ser ateu. Mas acho que isso é querer predeterminar as coisas. Devemos conviver com as diferenças, e não taxá-las como anomalias. Por que, ao invés disso, não gastamos dinheiro para pesquisas com curas de doenças, com pesquisas para criar mecanismos para combater a miséria no mundo? Estes sim são objetos urgentes de estudo.

O que acredito é que a cristofobia deve ser criminalizada. E o que me acalma é ter a certeza que daqui algumas décadas este será um assunto tão ultrapassado que, ao olhar para trás, teremos vergonha do quanto a sociedade já teve uma mentalidade atrasada.

01 setembro 2014

Eleições 2014: A incompetência da oposição

Dia 01 de setembro de 2014

O PSDB governa o estado de São Paulo há 20 anos. Porém, ao contrário do PT a nível federal, que está no comando do país há 12 anos, o PSDB paulista parece não encontrar o desgaste tão comum aos partidos após sucessivas eleições. Segundo pesquisas recentes, o candidato à reeleição Geraldo Alckmin tem chances de ser eleito em primeiro turno, ou seja, com mais de 50% dos votos válidos.

Das duas, uma. Ou a administração tucana é ótima, digna de outra reeleição, ou então a oposição é incompetente. Eu, como paulista que sou, fico com a segunda opção. Claro que há outras coisas pesando na balança. A omissão da mídia influencia, sim. Porém, nunca houve tantos fatores que pudessem tirar o governo do PSDB. Ainda assim, ao que tudo indica, esta será uma das eleições mais fáceis dos últimos anos.

Na área da saúde, o fechamento da Santa Casa de São Paulo. Na segurança pública, o 14° aumento consecutivo da violência. Na educação, além de uma anomalia chamada progressão continuada e da baixa qualidade do sistema público de ensino, as universidades estaduais, em especial a USP, passa por uma grande crise financeira e a greve mais longa de sua história. Porém, certamente, o pior setor de seu governo seja mesmo o da mobilidade urbana. Além da obra do Rodoanel, orçada em 4 bilhões de reais e ainda inacabada, o Estado de São Paulo possui uma quantidade interminável de pedágios em suas rodoviais a preços elevados. Só a cidade de Itatiba, por exemplo, é cercada por três deles. Pior, o governo tucano é alvo de investigação sobre um esquema que desviou milhões de reais de obras do metrô. Isso sem falar no risco da falta de abastecimento de água no estado mais rico da nação, problema ocultado pelo atual governo provavelmente com medo disso se refletir nas intenções de voto. E - nunca é demais frisar - a falta de água ocorre por falta de investimentos, e não por culpa de São Pedro.

E, ao que tudo indica, os tucanos se reelegerão, apesar de tudo. Pode-se julgar o povo paulista como conservador ou alienado. Porém, nos falta também uma liderança de oposição na esfera estadual. Quem é o grande destaque da política paulista hoje? Não há nomes. Temos um Skaf que aparece apenas a cada 4 anos - e, cada vez, num partido diferente. Um Padilha não muito conhecido e com pouca tradição na política estadual. E candidatos menores e com projetos não tão diferentes do atual, salvo raras e inexpressivas exceções.

Enquanto houver uma oposição tão incompetente quanto esta, estaremos fadados a mais reeleições sucessivas da incompetente gestão tucana.

25 agosto 2014

Sem fita amarela

Dia 25 de agosto de 2014

Que me desculpe Noel Rosa, mas quando eu morrer, eu quero choro e vela, sim.

Quero, por um momento, ser lembrado só pelas coisas boas que fiz. Pois sei que, ainda que as coisas boas sejam menor em quantidade que as más ou indiferentes, serão elas as que reinarão no imaginário de quem me conheceu.

A morte perdoa todos os erros. A morte beatifica.

O morto é um ser moralmente intocável.

21 agosto 2014

Se eu fosse eu (ou É tudo hipotético)

Dia 21 de agosto de 2014

Se eu fosse realmente eu, os meus amigos não me cumprimentariam na rua.*
O que eu seria? O que eu faria?

Se eu confessar que já pensei em matar, qual seria a sua reação? Ou pior. Se eu confessar que já
pensei em me matar, qual seria a reação? Ou pior. E se eu confessar que já pensei?

Poderia declarar que já tive vontade de deletar você do meu Facebook. Que já tive vontade de deletar meu Facebook. Que o Whatsapp me perturba. Que não tenho coragem para abdicar deles.

É preciso muita coragem para afirmar que já abri a porta de casa pensando em fugir. Que já abri, escondido, a geladeira e comi um pote inteiro de leite condensado. Que já escondi coisas para não dividir. Que já roubei... roubei fila ou - é tudo hipotético - dinheiro. Que já matei... matei aula ou - é tudo hipotético - algum bichinho de estimação.

Se eu fosse eu, ainda estaria aqui? Na mesma casa, no mesmo bairro, cidade e estado? Em que estado de consciência eu estaria?

Como você me olharia se eu me tornasse uma puta? Isso, puta, artigo feminino. Com maquiagem e salto alto. Seu incômodo seria mais pelo que eu sou, ou pelo que você não é?

Se eu fosse ateu?

Me tornaria um hippie cabeludo que canta em volta de uma fogueira?

O que você faz quando ninguém te vê? Se eu fosse eu, estaria liberto? Ou, de novo, me cansaria de mim?

Talvez a vida teria mais brilho. Ou, talvez, eu não aguentasse. Quem sabe? É tudo hipotético.



*Frase de Clarice Lispector

20 agosto 2014

Eleições 2014: Alianças políticas e a sopa de letrinhas

Dia 20 de agosto de 2014

A eleição está próxima, e o Blog do Dan  não deixará de dar seus pitacos. O primeiro texto da série "Eleições 2014" irá comentar sobre as alianças políticas realizadas pelos partidos nas esferas federal e estaduais.

Por meio de um infográfico feito pelo site G1, é possível verificar a proporção dessa grande anomalia do sistema político brasileiro. Alianças e "desalianças" que nem mesmo o mais sábio cientista político conseguiria explicar. Muito bom para ver a ideologia do partido em que você votará- ou a falta dela.

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PT - Dilma para presidência, com o apoio de PMDB, PDT, PCdoB, PP, PR, PSD, PROS e PRB. Nos estados, tem 17 candidaturas próprias, e apoia nas outras o PMDB (6), PSB (2), PTB (1) e PSD (1).

PSDB - Aécio para presidência, com apoio de PTB, PTC, PMN, PTdoB, PTN, SD, DEM e PEN. Nos estados tem 14 candidaturas próprias, e apoia nas outras o PMDB (4), PSB (2), DEM (1), PCdoB (1), PSC (1), PP (1), PSD (1), PROS (1), SD (1) e PDT (1).

PSB - Tinha Eduardo na presidência e agora, provavelmente, indicará Marina Silva, com apoio de PRP, PPS, PSL, PPL e PHS. Tem 11 candidaturas próprias, e apoia nos outros PMDB (5), PSDB (4), PT (3), PP (1), PCdoB (1), SD (1) e PDT (1).

PSC - Pastor Everaldo para presidência. Nos estados tem 2 candidaturas próprias, e apoia nos outros o PMDB (7), PSDB (7), PSB (3), PDT (2), DEM (1), PTB (1), PSD (1), PPS (1), PROS (1), SD (1) e PT (1).

PSOL - Luciana Genro para presidência. Nos estados tem 26 candidaturas próprias e apoia apenas o PSB (1) em um estado.

PSDC - Eymael para presidência. Nos estados tem 2 candidaturas próprias, e apoia nos outros PMDB (8), PSDB (6), PSB (3), PT (2), PP (1), DEM (1), PSD (1), PTdoB (1), PROS (1) e PDT (1).

PSTU - Zé Maria para presidência. Nos estados tem 12 candidaturas próprias, e apoia nos outros PSOL (10) e PCB (2).

PRTB - Levy Fidélix para presidência. Nos estados tem 6 candidaturas próprias, e apoia nos outros PMDB (4), PSB (4), PT (2), PSD (2) , PSDB (1) , PPS (1) , PROS (1) , PMDB (1) e PR (1).

PCB - Mauro Iasi para presidência. Nos estados tem 14 candidaturas próprias e apoia nos outros apenas o PSOL (4)

PV - Eduardo Jorge para presidência. Nos estados tem 2 candidaturas próprias, e apoia nos outros PMDB (5), PT (5), PSB (3), PSDB (2), DEM (2), PSC (1), PDT (1), PSD (1), PTdoB (1), PROS (1), PR (1) e PDT (1).

PCO - Rui Pimenta para presidência. Nos estados tem 5 candidaturas próprias e não apoia nenhuma em outros estados.

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Percebe-se claramente, através desses dados, a polarização entre PSDB e PT no Brasil, já que são sempre adversários tanto na esfera federal quanto nas estaduais.

Por outro lado, o PSB, que se autointitula como a "terceira via", chega a apoiar tanto os tucanos quanto os petistas dependendo do estado.

Vale a pena destacar o PMDB, o partido amigo de todos, já que, com exceção dos partidos claramente de esquerda, como PSOL, PSTU e PCB, são os principais aliados de todos os outros. Fica o questionamento de qual ideologia ele segue: a das ideias ou do benefício próprio.

Outro destaque é o PSOL, que apesar de novo e pequeno, é o partido com mais candidaturas próprias do país, sendo que a maior parte delas não conta com apoio de outro partido, exceto em alguns casos com PSTU e PCB. Teve problemas em oficializar o nome do candidato, que até pouco antes do término do prazo seria Randolfe Rodrigues.

Falando ainda de PSOL, ele é um dos poucos partidos, ao lado de PSDB, a apresentar candidaturas desde 2006 com diferentes nomes.

Já Marina Silva, assim que confirmada como cabeça de chapa pelo PSB, será a única candidata a ter disputado a presidência por outro partido, já que em 2010 era do PV. Se filiará ao Rede Sustentabilidade assim que for regularizado.

Há também o destaque do nanismo, o PRB, que não tem sequer uma candidatura própria nos estados, me fazendo questionar se existe algum motivo - a não ser os acordos políticos obscuros - de sua existência.

Você vai votar ou anular? Você votará em pessoas ou em partidos?

Acompanhe as próximas postagens sobre as Eleições 2014 aqui, no Blog do Dan.

18 agosto 2014

A difícil tarefa de ser Ombudsman (ou a Folha melhorou tanto assim?)

Dia 18 de junho de 2014


Imagine-se como o maior crítico de uma empresa. Imagine que você receba para realizar tais críticas. Imagine, agora, que quem lhe pague essa quantia seja a própria empresa alvo de suas críticas. Esse é o honroso e ingrato papel de quem assume a coluna dominical "Ombudsman", que existe no jornal Folha de S. Paulo desde 1989,  ocupado atualmente pela jornalista Vera Guimarães Martins.

De currículo invejável - assim como se espera qualquer um que venha a ocupar tal cargo - Vera é, desde maio deste ano, a Ombudsman do mais importante jornal paulista e, vale a pena frisar, o único periódico brasileiro além do cearense "O Povo" a fazê-lo. Ela é a sucessora de Suzana Singer (2010-2014) e Carlos Eduardo Lins da Silva (2008-2010). Este último, declarou em uma oportunidade que a função é algo "solitário". "Para manter a independência, preferi me afastar fisicamente da redação, evitava me encontrar com pessoas do jornal", disse.

Porém, desde que assumiu o cargo em maio, Vera Guimarães Martins está longe de ter críticas tão incisivas quanto de seus sucessores. Cita em suas colunas apenas alguns exageros, amenidades, análises sobre jornalismo virtual e erros compartilhados entre a Folha e algum outro veículo jornalístico. Mesmo nas críticas mais sensíveis, como em "Faltou transparência, sobrou dúvidas", a jornalista prefere apenas alfinetar e dar um tom ameno ao texto, do que ser enfática. O tom quase informal também é algo que incomoda. Das duas, uma. Ou, de uma hora para a outra, o jornal Folha de S. Paulo parou de cometer erros graves - e, infelizmente, comuns no jornalismo - ou Vera Guimarães Martins ainda não se mostrou disposta a abraçar todos os "contras" intrínsecos ao cargo que lhe foi confiado.

Ao lado do site Observatório da Imprensa e das faculdades de jornalísmo do país, como a UERJ que divulgou recentemente o chamado "manchetômetro", uma análise das manchetes positivas e negativas nos principais veículos de imprensa do país sobre os candidatos à presidência, o Ombudsman se apresenta como um dos poucos espaços críticos sobre a mídia. Apesar de não ter o dever legal de se expor, a Folha de S. Paulo, primeiro veículo a adotar o Ombudsman, tem o dever moral de manter o nível crítico da coluna.

Ombudsman e bom-mocismo são antagônicos. Sua existência é sinal de incômodo. O cargo exige agressividade. Talvez essa seja apenas uma fase de adaptação de Vera Guimarães Martins. Porém, por enquanto, tenho apenas saudade de Suzana Singer, aquele elegante rotweiller que reinou por quatro anos na coluna dominical.

28 julho 2014

“História da Eternidade”: A seca do nordeste não é só de água

O filme “História da Eternidade” foi o penúltimo a ser apresentado no 6° Festival de Cinema de Paulínia. Chegou tímido, já que a grande atração da noite seria “Infância”, estrelado por Fernanda Montenegro. Chegou e ficou. Ficou com cinco prêmios, entre eles o de Melhor Filme, Melhor Direção para Camilo Cavalcante, Melhor Ator para Irandhir Santos e Melhor Atriz divididos entre as três protagonistas Marcélia Cartaxo, Zezita Matos e Debora Ingrid, e se consagrou como o grande vencedor do festival.

O primeiro longa-metragem de Camilo Cavalcante se passa em pleno sertão nordestino. Porém, vai além dos clichês seca e miséria do qual estamos acostumados. As tragédias contadas pelo olhar sensível de Cavalcante, tal como nas obras de Nelson Rodrigues, não é material, mas humana.

"História da Eternidade" retrata três histórias de amor em um vilarejo do sertão nordestino. Uma delas mostra a trajetória de uma viúva, vivida por Marcélia Cartaxo, que acaba se entregando aos encantos do rapaz cego do vilarejo. A segunda trata da narrativa de uma avó, interpretada pela ótima Zezita Matos, que recebe o neto, fugido de São Paulo após se envolver com criminosos na capital paulista. Mas o grande destaque é a história de Joãozinho, um artista epiléptico, vivido de forma brilhante por Irandhir Santos, que ajuda a sobrinha (Debora Ingrid) a ver o mar pela primeira vez.

Não faltam cenas bonitas e impactantes no longa. As câmeras vivas do diretor agem quase como um personagem adicional do filme, mostrando ângulos de beleza estética ímpar, como na cena em que o personagem de Irandhir Santos realiza uma performance ao som da música “Fala”, do grupo Secos e Molhados. O personagem nos faz questionar sobre como ser artista em pleno sertão nordestino. Mas acho que também nos questiona sobre como ser artista em nosso país.

O longa atingiu em cheio os espectadores, que aplaudiram por duas vezes cenas soltas do filme. Atingiu porque foi poético e corajoso. E o principal: abandonou os clichês, pois, ao contrário dos outros filmes que retratam o sertão nordestino, em “História da Eternidade” a grande tragédia dos personagens acontece quando a chuva aparece. A seca do nordeste – e talvez do mundo – é mais que de água, é de amor.

24 julho 2014

Terra da Solidão

24 de julho de 2014

Eu vivo na Terra da Solidão.
Onde viver a dois é também viver só.
Aqui há crise de representação.
E toda apresentação mais parece um monólogo.
Sinceramente,
Eu pretendo me mudar logo
Desta terra da solidão.

Na esquina de minha rua há um filhote abandonado.
Há um filhote abandonado na esquina de minha rua.
Há uma criança abandonada na sala de minha casa.
E essa criança sou eu.
E essa criança é minha.
Mas – Meu Deus! – quem teve coragem de abandonar o filhote na esquina?

A minha terra é feita de solidão e de pessoas.
Cada vez mais pessoas.
Cada vez mais solidão.
Cada vez menos terra.
Cada vez mais distância.

Eu sou da Terra da Solidão,
Onde cada pessoa é uma ilha.
Nada me difere dos que aqui estão.
Sua terra é melhor que a minha?
Me leve, me mostre a saída.
Vou me exilar da Terra da Solidão.
Para que eu possa viver só em outro lugar.

22 julho 2014

Herói e heroína

22 de julho de 2014

Vamos falar de herói. Vamos falar de heroína.
O verdadeiro herói é anônimo. A verdadeira heroína é proibida.

Heróis famosos têm uniformes estilosos e corpos atléticos.
Se transformaram devido a grandes acontecimentos ou por fatores genéticos.
Já os heróis de verdade apenas nascem. Cantam. Choram. Nos fazem chorar. Trabalham. Alguns se drogam.
Onde está minha heroína? Me passa, então, um lanche com Itubaína, ou qualquer outra droga industrializada barata.

Heróis de verdade sangram. E morrem desconhecidos.
Heroínas estão sempre à margem.

Me diga o nome de sua heroína.
Você tem heroína?
Você tem?
Tem?

15 julho 2014

A extinção dos "machos de verdade"

15 de julho de 2014

A Revista Veja publicou no dia 14 de julho, um dia antes do Dia Nacional do Homem, um texto de autoria do colunista Rodrigo Constantino intitulado "Onde foram parar os machos?", que questiona a chamada "sensibilização" do homem moderno e idolatra uma espécie que, segundo o colunista, está em extinção: o "macho de verdade".

Destilando todo seu sarcasmo, Constantino ainda estampa em seu texto uma foto do cartunista Laerte Coutinho, um dos mais reconhecidos desenhistas e principal expoente transgênero do país, com a legenda "Laerte, o 'macho' do mundo moderno". Além disso, cita aquele que é sua maior tara intelectual, o filósofo Luiz Felipe Pondé, o mesmo que escreveu um artigo em que pergunta filosoficamente "como achar uma mulher gostosa sem pensar nela como um objeto?".

Sou obrigado a concordar com Rodrigo Constantino. O grupo nomeado por ele de "machos de verdade" está mesmo em declínio. E isso pode ser comprovado em números. Os homens brasileiros tem uma expectativa de vida de 7 anos a menos que as mulheres. O conceito de "macho", aquele infalível, que não sente ou demonstra dor ou qualquer tipo de sentimento, faz com que o homem procure menos o atendimento médico em relação às mulheres. Para o "macho de verdade", toda a importância dada ao pênis é inversamente proporcional ao intocável ânus, fazendo com que 68% dos homens entre 40 e 70 anos não tenham realizado o exame do toque, necessário para a prevenção de câncer de próstata (segundo pesquisa encomendada pela Sociedade Brasileira de Urologia). O grande motivo dessa recusa é o preconceito.

Além de cuidarem pouco de sua saúde por serem muito machos, os machos também morrem porque se matam mais do que os outros grupos. Proibidos de demonstrar afeto às pessoas com o medo da sociedade "descobrir" que também são seres sensíveis, os machos preferem amar declaradamente as coisas. Amam o futebol, esporte número um de todo "macho de verdade", e se organizam em gangues de torcida para espancarem a outra gangue que veste o uniforme diferente do dele. Até 2012, brigas ligadas ao futebol somavam 155 vítimas fatais no país. Porém, não só de futebol morrem os homens. Levantamento do IBGE de 2011 apontou que as principais vítimas de morte violenta no país são homens de 15 a 29 anos, com 14,5%. Essa taxa é ainda maior nas regiões Norte e Nordeste, terra dos cabras-machos e onde estão localizados 9 dos 10 estados com maior quantidade de ataques homofóbicos.

É por conta dessas e outras coisas que o movimento "Homens, Libertem-se", criticado por Rodrigo Constantino, foi criado. O homem machista, aquele que se vê como o pilar incostestável da família, o sustentador da casa, o pênis ereto e incansável, vem perdendo seu lugar com a ascensão e conquistas da mulher. Porém, para aqueles que forem inseguros e precisarem reafirmar sua masculinidade para o mundo, sempre haverá altas doses de testosterona em filmes como "Os Mercenários", nos livros de Felipe Pondé, nas gangues de futebol e nas doenças diagnosticadas tardiamente. Não se preocupem, Rodrigo Constantino e os outros "machos de verdade" (seja lá o que isso signifique). Pelo visto, a causa de sua extinção não será o cartunista Laerte, mas sim vocês mesmos.

Que tal aproveitarmos o Dia Nacional do Homem para repensarmos nosso papel na sociedade?

13 julho 2014

Disney, Frozen e a revolução feminista

13 de julho de 2014

Não se faz mais filmes da Disney como antigamente. E isso não é uma crítica.

Após perder espaço para animações orientais (sejam os famosos animes ou longas como o filme vencedor do Oscar “A Viagem de Chihiro”) ou mesmo para produtoras estadunidenses, como a Dreamworks de “Shrek” e a Pixar de “Toy Story”, a empresa de Mickey, que mudou a história da animação nos cinemas, teve de se adaptar aos novos tempos. E isso não foi uma tarefa fácil.

O início do novo milênio chegou com o desafio de modernização do estúdio de animação mais famoso do mundo e várias tentativas fracassadas, como “A Nova Onda do Imperador” (2000), “Atlantis – O Reino Perdido” (2001), “Nem que a vaca tussa” (2004), e “A Princesa e o Sapo” (2009). Porém, quando parecia que a Disney sucumbiria à criatividade das concorrentes e de sua recente aquisição, os Estúdios Pixar, ela descobre seu maior tesouro: ela mesma.

Mesmo com os bons “Enrolados” (2010) e “Detona Ralph” (2012), foi indiscutivelmente após o sucesso de “Frozen – Uma aventura congelante” que a  Disney redescobriu sua genialidade. A personagem Elsa, rainha e detentora de uma magia capaz de controlar o gelo, se mostrou a chave dessa mudança. A personagem simplesmente nasceu poderosa, quase numa metáfora às mulheres que cada vez mais almejam e conquistam o poder nos dias de hoje. Se antes as princesas eram todas bondosas, amáveis e frágeis, este conto dá poder e autonomia à mulher. A figura masculina fica em segundo plano. Ao contrário dos clássicos, Elsa não menciona em momento algum o desejo de se casar, ter filhos ou de viver feliz para sempre. Ao contrário, devido aos infortúnios da história, opta por se exilar do mundo.

Apesar da princesa Anna, irmã de Elsa, carregar muito da princesa clássica, existe aí também uma inversão de valores. A história de Anna se mostra o conto da gata borralheira às avessas. Se Cinderela é a moça pobre que se apaixona pelo príncipe rico, em Frozen é a vez do pobre Kristoff se apaixonar pela herdeira do trono. Isso sem falar no grande sarcasmo com que é tratado a ideia de “amor à primeira vista”, conceito alimentado ao longo das décadas pela própria Disney.

Mas a cereja do bolo está mesmo no final. Apenas um “ato de coragem” conseguiria salvar a jovem princesa Anna de seu infeliz destino de morrer congelada. E foi esta, talvez, a maior quebra de paradigmas que o filme realizou. Não foi nenhum príncipe encantado que a salvou, mas sim Elsa. As irmãs se bastam. Pela primeira vez, deu-se importância maior para a relação familiar ante a relação amorosa. O amor continua lá, como chave de toda a história. Porém, seu conceito foi ampliado e as mulheres não estão mais esperando pelo príncipe encantado. A revolução feminista chegou, enfim, às animações da Disney. E Frozen, com todo seu feminismo, conseguiu colocar a Disney nos trilhos do novo milênio.

07 julho 2014

Sobre ser culto

07 de julho de 2014

A vida não se resume ao Facebook.
Nem a minha vida, nem a sua vida.

O mundo, assim como o Facebook, não pode ser dividido entre o bem e o mal. Essa dicotomia plena existe apenas em contos de fadas.

Existem, sim, preferências e ideologias diferenciadas. Pode-se concordar ou discordar. Porém, é
preciso ter em mente que o fato de ter lido Marx não te faz um expert em política, da mesma forma que ler Stanislavski não te faz um bom ator e ler Machado de Assis não te torna uma sumidade em literatura brasileira. Há quem confunda o fato de ser culto com o de estar certo a respeito de tudo. Ser culto significa apenas dominar um grande conteúdo teórico. Hitler, Gandhi, Mussolini, Fernando Henrique Cardoso, Elke Maravilha entre outras personalidades são exemplos de pessoas consideradas cultas. Dessa forma, percebe-se que ser culto é diferente de estar correto.

Não se pode esquecer nunca que, independente de ser uma pessoa culta ou não, existe sempre o outro lado, a outra versão, o diferente ponto de vista. É necessário ter opinião sobre alguns assuntos. É importante ter uma visão crítica a respeito da política, mídia, cultura, sociedade, etc, mas, principalmente, perceber que a sua opinião, por mais correta que pareça, é apenas a sua opinião.

Não reduza uma pessoa à página de seu Facebook. O fato de curtir a página do Facebook de um político não torna a pessoa uma votante leal do mesmo, da mesma forma que curtir uma página da Valeska Popozuda não a torna necessariamente uma funkeira e o fato de postar selfies não a torna uma pessoa rasa.O fato de você ter engajamento em movimentos sociais não significa que as outras pessoas também não tenham ou que sejam obrigadas a ter.

Toda pessoa é mais que seu Facebook. E o mundo é maior que o seu mundo.

Quem quer bater um papo?

01 julho 2014

Nada

01 de julho de 2014

Desejo o nada
à quem me prometeu tudo - e apenas prometeu.
Este meu lado sombrio
que tu despertaste
Te envia agora o vazio,
o silêncio transmutado em palavras mudas.

A partir de hoje
a solidão te fará companhia.
À ti somente a melancolia.
A saudade do que jamais ocorreu.

Envio o nosso livro de páginas em branco sem história.
Com apenas um prefácio escrito
de promessas de um final feliz,
mas sem sequer um início.

Te desejo o mofo
o tédio da cidade pequena
o cheiro da casa guardada
o cotidiano e a rotina.

Te desejo o não-desejo
a perca da libido
que te tornes insone
que não sonhe
que perca
se perca
peque
peça
nade sem chegar.
Nade!
Nade!
Nada!
Nada!

30 junho 2014

Enterro

30 de junho de 2014

Todos andavam lentamente em direção ao corpo inanimado que, outrora, estava repleto de vida. O céu se mostrava triste, nublado e cinza, e o tempo, sem vento, dava a impressão de que aquele momento ficaria paralisado para sempre.

Logo atrás do caixão, caminhavam quatro beatas, que velavam o falecido com velas e lágrimas, sussurrando de forma ininterrupta uma reza indecifrável.

Eram quatro os homens que carregavam o caixão. Dois deles possuíam um corpo atlético. Destes, um usava camisa regata e, seus braços, fortes, inflavam devido ao esforço. Quatro dos presentes observavam o homem atlético dos braços despidos com desejo. Entre eles, uma menina de 15 anos. Entre eles, uma das tias do falecido. Entre eles, uma das beatas. Entre eles, um rapaz.

Três crianças estavam entediadas.

A maior parte dos adultos vestia preto. O restante optou por cores com tonalidade escura. Apenas um homem se destacava com sua camisa verde fosforescente.

Caminhavam na marcha fúnebre parentes do falecido. Amigos do falecido. A esposa e seus dois filhos. Sua amante. Conhecidos do falecido. E também pessoas que mal o conheciam, mas estavam lá por obrigação social.

Foram ditas 154 vezes a frase “meus pêsames” à viúva.

O corpo do falecido se encontrava pálido, como o de um morto. Gelado, como o de um morto. Mas ainda conservava um sutil sorriso irônico.

O coveiro já estava a postos. Trabalhava naquele ramo há vários anos e, de tantos anos, perdeu as contas de quantas covas abrira desde então. Aquela seria apenas mais uma, de mais um dia que preencheria sua rotina. As lágrimas dos outros já não o sensibilizava mais.

Era outono, e as árvores do cemitério tinham suas folhas secas. Pouco antes de baixarem o caixão para dentro da cova, uma leve brisa se iniciou e uma fresta de luz surgiu entre as nuvens.

Todos os presentes ficaram impressionados com essa mudança no tempo. Mas, não. Aquilo não era um sinal. Da mesma forma, um céu nublado não quer dizer nada além da possibilidade de precipitação e as folhas sem vida significam apenas que o outono chegou.

Quando o caixão encontrou, enfim, o seu inevitável destino, as nuvens, o vento e as variações climáticas continuaram alheias a tudo, seguindo seu curso natural.

Por mais que os entes queridos do morto quisessem, imaginassem ou sentissem, aquele falecimento era só mais um falecimento. Assim como todo nascimento é só mais um nascimento. Nada mudou. E a vida continuou a seguir seu ciclo natural.

10 junho 2014

Vai ter Copa ou não vai?

10 de junho de 2014

Na minha casa vai ter copa.

Na verdade, minha casa tem copa desde que foi construída. Meus pais quiseram assim. "Divide melhor a casa", afirmaram eles. Na copa de casa só existe uma mesa de jantar. Porém, nem sempre jantamos nela. Seria a copa de casa, então, um elefante branco? É algo a se pensar.
Mas nem todas as casas tem copa. E nem todas as pessoas tem casa. Algumas casas não tem pessoas. Já a Casa do Povo deve ter copa. Só não deve ter povo.

Na casa do meu avô também tem copas. Pensando bem, não é bem na casa, mas sim no baralho. Com seus quase 90 anos, é um truqueiro de mão cheia. Olha, sorrateiro, pro seu parceiro de jogatina, e levanta a sobrancelha avisando tem carta boa na mão. Poderia ser o zape. Mas - ele sabe - um copas é sempre bem vindo.

No mundo de Mário também tem Koopa. Koopa, no mundo de Mário, é sinônimo de vilania. O Koopa do mundo de Mário já sequestrou uma princesa, jogou bombas e subiu em um balão com rosto de palhaço. Por outro lado, nunca tirou pessoas de suas casas, não superfatura estádios e não matou operários.

Se, na história de Alice, a Rainha de Copas joga criquet, por aqui, a Copa do Mundo joga futebol. Serão 32 países e, dizem, mais de um bilhão de pessoas assistindo, além de um milhão de turistas estrangeiros. Pra minha mãe não vai ter Copa. Ela diz que fica "muito nervosa quando tem jogo do Brasil". Tenho amigos que vão ao estádio ver o jogo e estão felizes da vida. Alguns vão protestar. Outros, ainda, assistir pela telinha.

O Koopa continua sendo um vilão. E meu avô continua jogando seu baralho.

- Truco! - gritou ele.
- Seis!
- Nove!
- Doze! - disse o adversário, mostrando o zape.
E meu avô perdeu, com o copas na mão.

06 junho 2014

Hábraço?

6 de junho de 2014

Precisamos trabalhar mais nossos abraços.
Antes até do que o beijo, mais até que do que a palavra.
Não ter medo da distância que diminui.
Do corpo com corpo
que, de tão próximo,
quase se torna um.

Sentir a respiração do outro.
Sem tapinhas desajeitados nas costas.
Abraço bom tem pressão,
troca de calor e de energia.
Hoje vou abraçar o mundo,
começando pelo primeiro desconhecido que encontrar na rua
sem pedir permissão.

04 junho 2014

Tragédia cotidiana

4 de junho de 2014

Acordar, trabalhar e dormir. No meio disso, comer, beber, mijar, cagar e se limpar. Para realiza-los, falar, andar, ouvir, pensar e mover. O coração bate, o pulmão respira. Compras, às vezes. Viagens, às vezes. Mesmos lugares, mesmas pessoas, mesmas conversas.

Nelson Rodrigues e suas tragédias. Teatro grego e suas tragédias. Mas a maior de todas é a do cotidiano. Dura uma vida e, de tão trágica, não se transforma em peça teatral.

01 junho 2014

X-Men: Um filme sobre nós

1 de junho de 2014

X-Men não é uma história de mutantes. Ou melhor, é bem mais que isso. O novo filme da série, intitulado "X-Men - Dias de um futuro esquecido", fala sobre nós. E é por esta razão que Wolverine e sua trupe conseguem fazer desta, uma obra equivalente aos ótimos "Batman - O Cavaleiro das Trevas" e "Watchmen", e superior a quaisquer outros heróis, sejam de Stan Lee ou outro autor.

A película se inicia num futuro apocalíptico, onde mutantes estão sendo aniquilados por robôs adaptáveis chamados de Sentinelas. Resta a Wolverine voltar no tempo e tentar reescrever a história. E, neste passado, vemos um Professor Charles Xavier amedrontado, um Magneto consciente de seu lugar e uma Mística que se torna a chave de toda a história. A saga dos mutantes não trata de heroísmo, mas sim de sobrevivência. É a história de uma minoria fantástica e com um potencial incrível que é subjugada por sua aparência e por sua diferença, e que luta, cada qual a sua maneira, por respeito e reconhecimento.

Mística é, talvez, a personificação desta ideia. Transmorfa, pode ser quem quiser. Mas ela não quer ser ninguém além dela mesma. Assim como os integrantes de todas as minorias, sejam elas reais ou ficcionais, Mística não pediu para nascer assim. Ao mesmo tempo, não tem vergonha do que é. Ao contrário, sem essa diferença seria outra pessoa, uma pessoa que não quer ser. Mística é o que é. Assim como todos deveríamos ser o que somos.

Em "X-Men - Dias de um futuro esquecido" não há dicotomia entre bem ou mal porque, assim como na vida real, não há personagens com escolhas totalmente corretas ou equivocadas. O filme angustia. Em parte pelo sofrimento de personagens queridos e em outra por identificarmos semelhanças entre o nosso mundo e o deles. Ao final da película, os mutantes mostram que, apesar de seus poderes, não são invencíveis. Porém, conseguem nos fazer refletir, pois têm algo que Super-Man e Capitão América jamais terão: humanidade.

28 maio 2014

Não existe amor em Campinas

28 de maio de 2014

Ei, Criolo. Campinas também é um labirinto. Menor e menos místico, mas ainda assim um labirinto. Aqui, gritam mais as pichações que os grafites. Gritam e nos questionam: Seriam crimes, ou formas de expressão? Não dá pra entender... ou não queremos nem pensar.

Os cartões postais não têm frases. Na verdade, são poucos os cartões postais daqui. A maior parte foi demolida, juntamente com sua história. Nos resta um castelo sem rei, um navio em ruínas, uma estação ferroviária de trens dormindo, um mercado popular de iguarias e um teatro bonito... porém, menos bonito que um outro demolido décadas atrás.

Os bares, os shoppings, as baladas, as igrejas, as lojas, as ruas e esquinas estão cheios de almas vazias. E de almas cheias. E almas negras, brancas, pardas e amarelas. Amarelas principalmente em lojas de R$1,99 do centro. Que não vendem mais produtos por R$1,99.

A ganância vibra, e a vaidade, o Itatinga e algumas esquinas do centro excitam. Excitam?

Devolva a minha vida... meu tempo desperdiçado nos intermináveis congestionamentos de carros e de pessoas em ônibus lotados que, muitas vezes, não cumprem horário. Devolva meu dinheiro perdido pela ganância e corrupção de quem já esteve no poder. Aqui, eles não vão para o céu... espero.

Encontro duas nuvens nos escombros da antiga rodoviária. E é um dos únicos pontos da região central, cheia de prédios, em que ainda consigo ver duas nuvens e uma fresta maior do céu.

É verdade, Criolo. Não precisa morrer pra ver Deus. Mas é preciso viver pra conseguir observar as pequenas coisas.

Não existe amor em Campinas. Ou será que existe?

27 maio 2014

Dilma: o pior governo da história

27 de maio de 2014

Pronto. Ganhei sua atenção. Desculpe, mas não falarei sobre o governo Dilma. A intenção deste texto é apresentar dicas sobre como realizar uma publicação com bastante views para uma página.

A primeira dica é justamente a que te trouxe a este blog: o título. Títulos no superlativo chamam a atenção. Ainda mais se tiver um caráter depreciativo. Melhor ainda se o alvo for algum dos personagens que nunca saem de moda, como Dilma, Revista Veja, Pelé, Venezuela, Cuba e Rede Globo. Modere ao citar os deputados Bolsonaro ou Feliciano, pois já são temas old fashion.

A foto também é importante, pois dá cara à postagem. Quanto mais cor, melhor. A utilização de montagens está liberada, afinal, se a Revista Veja usa, por que você não usaria? E, se possível, poste fotos de cachorrinhos e gatinhos fofos. Por algum motivo, animais fofos sensibilizam mais as pessoas que seres humanos.

Mas a cereja do bolo, claro, é sempre o texto. Se for político, jamais se esqueça dos termos “PeTralhas” ou “Tucanalhas”. Se for crítica social, foque em “coxinhas” ou “geração leite com pera”. Ironia é fundamental, ainda que sejam ironias tão clichê quanto essas. Postagens cotidianas de "como foi meu dia"geralmente não funcionam. Ninguém quer saber o que você comeu no dia de hoje, a não ser que a postagem for no Instagram.

Utilize citações de autores que você nunca leu. Dá credibilidade, e passa um ar culto à sua postagem.

Comente sobre o assunto do momento, e isso vale também para redes sociais como um todo. Ou vai me dizer que você não tirou uma foto comendo banana com a hashtag #SomosTodosMacacos, hein, primata? 

E lembre-se: views são mais importantes que conteúdo. Curtidas são mais importantes que credibilidade. "Nada é importante”, já dizia Antônio Abujamra. Mas quem é esse cara? Não importa, nunca li nada dele. Apenas ignore-o, e torne-se um semi-deus de sua página virtual.

26 maio 2014

Mentes

26 de maio de 2014

Infelizmente,
Infeliz mente.
Mente,
mas não me engana.
Felizmente.

22 maio 2014

Mensalidade na USP pra quem?

22 de maio de 2014

Em artigo publicado no site da revista Carta Capital no dia 19 de maio, intitulado “Mensalidade na USP?”, Ricardo Palacios defende a cobrança de mensalidade na USP e, consequentemente, em outras universidades públicas do país. Tem argumentos bem construídos e concordo quando ele diz que esse é um tema que deve ser debatido, assim como todos os outros temas considerados tabus, já que vivemos em uma democracia e as ideias não devem ser censuradas.

Ricardo Palacios, médico formado pela Universidade Nacional da Colômbia e atual universitário na faculdade de Ciências Sociais da USP, tem uma visão idealizada das coisas. Se considerarmos apenas que a USP vive hoje uma crise financeira grave, a cobrança de mensalidade na universidade pública (??) seria, talvez, um meio de recuperar os cofres da instituição.

Porém, se pensarmos no contexto, veremos que esta é uma opinião simplista. Somos o país que mais paga imposto no mundo, e temos o pior retorno em serviços. Alguém questiona que, apesar dos impostos, a educação, a saúde, a segurança, o transporte e outra série de coisas vão mal – muito mal – em nosso país?

A USP recebe 5% de todo ICMS arrecadado pelo governo de São Paulo, imposto que encarece 18% de boa parte das mercadorias compradas pela população. Dessa forma, quem compra mais coisas (os ricos), acaba dando uma contribuição maior para a manutenção da USP do que os que compram menos coisas (os pobres). Justo! Todos nós já financiamos a educação. Os mais abastados com mais, os menos privilegiados com menos. O que Palacios não cobra em seu artigo é uma investigação sobre onde e como todo esse montante é aplicado. Segundo levantamento de 2012, o estado de SP recebeu R$ 109.103.539.000,00 em ICMS; dessa forma, só a USP, recebeu no ano de 2012 R$5.455.176.950,00. Estamos falando em bilhões. Isso não é suficiente para manter uma universidade? Não sei. Você não sabe. Ninguém sabe. Sabemos apenas que nós, ricos e pobres, já pagamos impostos abusivos para serviços que não temos. O que Palacios, Folha de S.Paulo, e até mesmo alguns professores da própria USP estão propondo é pagarmos mais uma taxa por mais um serviço que não teremos.

A pergunta é: o chamado “Fundo Fraterno”, em um Brasil notadamente corrupto, será utilizado, na prática, para financiar quem? Os alunos ou os detentores do poder?

Sou contra a mensalidade porque, além de achar injusto com o povo que mais paga imposto no mundo, não confio em quem está no poder.


Danilo Pessôa, jornalista formado na universidade particular PUC-Campinas, e um dos financiadores da USP através do ICMS

20 maio 2014

(Sem) Inspiração

20 de maio de 2014

Hoje acordei inspirado.
Mas acho que expirei.
A inspiração sumiu.
Como ela aparece? E como some?
Qual sua receita, seu caminho, sua regra?
Minha inspiração é um aperto na boca do estômago que só é vomitada por palavras.
Talvez ainda esteja aqui dentro e eu só a tenha perdido.
Como escrever sem inspiração?
Não importa. Escreverei mesmo assim.



12 maio 2014

Brasil: Uma panela de pressão (ou estamos perdidos)

12 de maio de 2014

Até as manifestações ocorridas em junho de 2013, eu jamais havia presenciado uma grande mobilização popular no país. A última de grandes proporções havia acontecido em 1992, os chamados caras-pintadas, quando eu não havia completado nem 2 anos de idade e, dessa forma, não estava consciente do que ocorria.

De 1992 pra cá, o Brasil mudou. Nós, da geração Y brasileira, crescemos com a sensação de uma certa liberdade, otimismo e estabilidade econômica - ao menos se comparada com os tempos da ditadura, recessão e hiperinflação vividos por nossos pais. E essa aparente tranquilidade abafou por mais de duas décadas um de nossos principais problemas: a instabilidade social.

Insegurança. Segundo levantamento divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), arma de fogo mata mais pessoas no Brasil do que no Iraque. O nosso pacífico país, com um número de habitantes que representa 2,8% da população mundial, registra 11% dos homicídios em todo o planeta. De acordo com o Escritório sobre Drogas e Crime das Nações Unidas, o Brasil possui 11 das 30 cidades mais violentas do mundo, se consideradas apenas aquelas com mais de 100 mil habitantes. No ano de 2012 visitei a cidade do Rio de Janeiro por duas vezes e um jornalista de uma grande emissora carioca (sim, essa mesma que vocês estão pensando), me disse em uma daquelas conversas de boteco que as chamadas UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) eram uma farsa, conversa pra gringo ver, indo contra o que eu assistia e lia até então nos meios de comunicação, que vendiam o projeto como algo revolucionário. Quem diria que pouco mais de um ano após essa conversa, o caso Amarildo viria à tona, mostrando as falhas e o autoritarismo do qual as comunidades estão expostas. Afinal, segundo o Ministério Público do Rio de Janeiro afirmou em matéria do site UOL, o caso Amarildo "não se trata de um fato isolado". Além disso, uma amiga e advogada criminalista afirmou que há uma intensa movimentação nos presídios, onde seus "moradores" afirmam que ainda neste ano haverá uma grande mobilização exigindo melhor qualidade nas penitenciárias. E essa má estrutura não é de forma alguma novidade no Brasil. O último caso de repercussão nacional foi a tortura realizada entre presos no Complexo Penitenciários de Pedrinhas, em São Luís (MA).

Transporte e mobilidade urbana. O tema que foi o estopim das manifestações de 2013 não apresentou melhoras. Empresas de transporte continuam lucrando alto para um serviço de baixa qualidade, enquanto transportes alternativos como trens, metrôs, ciclovias e transporte público marítimo são promessas ou, se existem, não suprem a demanda, seja por incapacidade administrativa ou corrupção, como demonstra a denúncia de corrupção nos metrôs da cidade de São Paulo.

Educação. O Brasil ocupa o 88° lugar na educação, em ranking elaborado pela Unesco, que conta com 127 países. Estão na nossa frente países como Azerbaijão, Tonga, Botswana, além das "mal faladas" Cuba e Venezuela.

Corrupção. Não serei redundante.

Gastos com a Copa do Mundo e Olimpíadas. Além da alta quantidade de dinheiro envolvida para sua realização e da corrupção evidente, são dois momentos em que o Brasil será o centro do mundo, boa oportunidade para manifestações ganharem destaque e força.

Imprensa tradicional. Os grandes meios de comunicação estão sendo cada vez mais desafiados, seja por meios alternativos como  internet, ou presencialmente, como se viu nas manifestações do ano passado e em outras oportunidades.

Insatisfação. Ser brasileiro é caro. Somos um dos que mais pagam impostos do mundo e temos o pior em termos de qualidade dos serviços públicos prestados à população, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT). Insatisfação também com o desempenho da presidente Dilma Roussef, seja por motivos políticos ou pessoais. Insatisfação com a situação e oposição. Insatisfação com a imprensa. Insatisfação até com mesmo as manifestações. Há um descontentamento generalizado, de todos com tudo, e com razão. Estamos dentro de uma panela de pressão insustentável. Também estamos perdidos, numa mistura perigosa de revolta e indiferença.

Dilma Roussef, Aécio Neves ou Eduardo Campos? Ou ainda alguma zebra? Talvez o personagem mais importante do Brasil na próxima década não seja um político, mas sim o povo, para o bem ou para o mal. Mas o que o faremos deste país, essa é a verdadeira incógnita. O que acontecerá quando a panela de pressão explodir?

09 maio 2014

A Floresta de Thoreau

9 de maio de 2014

Eu não estou na floresta de Thoreau.

Não há mapa. Pergunto o caminho, mas ninguém sabe. Não há placas. Não há guias. Os pontos cardeais não constam na bússola. O GPS ainda não calculou sua rota. O Google Maps não a localizou.

Dizem que a terra por onde andam os poetas mortos é repleta de vida. Porque viver é mais que respirar. Porque viver é mais que um coração pulsando.

Estou à sua procura. Chegando ao destino que não sei onde é e não sei onde fica. Que não sei se chegarei. Às vezes tão longe. Às vezes tão perto. Às vezes.

Não quero não viver.

“Eu fui para a floresta porque queria viver deliberadamente! Eu queria viver profundamente e sugar toda a essência da vida. Queria acabar com tudo que não fosse vida. Para que quando chegasse a minha morte, eu não descobrisse que não vivi.” (Henry David Thoreau)