30 de junho de 2014
Todos andavam lentamente em direção ao corpo inanimado que, outrora, estava repleto de vida. O céu se mostrava triste, nublado e cinza, e o tempo, sem vento, dava a impressão de que aquele momento ficaria paralisado para sempre.
Logo atrás do caixão, caminhavam quatro beatas, que velavam o falecido com velas e lágrimas, sussurrando de forma ininterrupta uma reza indecifrável.
Eram quatro os homens que carregavam o caixão. Dois deles possuíam um corpo atlético. Destes, um usava camisa regata e, seus braços, fortes, inflavam devido ao esforço. Quatro dos presentes observavam o homem atlético dos braços despidos com desejo. Entre eles, uma menina de 15 anos. Entre eles, uma das tias do falecido. Entre eles, uma das beatas. Entre eles, um rapaz.
Três crianças estavam entediadas.
A maior parte dos adultos vestia preto. O restante optou por cores com tonalidade escura. Apenas um homem se destacava com sua camisa verde fosforescente.
Caminhavam na marcha fúnebre parentes do falecido. Amigos do falecido. A esposa e seus dois filhos. Sua amante. Conhecidos do falecido. E também pessoas que mal o conheciam, mas estavam lá por obrigação social.
Foram ditas 154 vezes a frase “meus pêsames” à viúva.
O corpo do falecido se encontrava pálido, como o de um morto. Gelado, como o de um morto. Mas ainda conservava um sutil sorriso irônico.
O coveiro já estava a postos. Trabalhava naquele ramo há vários anos e, de tantos anos, perdeu as contas de quantas covas abrira desde então. Aquela seria apenas mais uma, de mais um dia que preencheria sua rotina. As lágrimas dos outros já não o sensibilizava mais.
Era outono, e as árvores do cemitério tinham suas folhas secas. Pouco antes de baixarem o caixão para dentro da cova, uma leve brisa se iniciou e uma fresta de luz surgiu entre as nuvens.
Todos os presentes ficaram impressionados com essa mudança no tempo. Mas, não. Aquilo não era um sinal. Da mesma forma, um céu nublado não quer dizer nada além da possibilidade de precipitação e as folhas sem vida significam apenas que o outono chegou.
Quando o caixão encontrou, enfim, o seu inevitável destino, as nuvens, o vento e as variações climáticas continuaram alheias a tudo, seguindo seu curso natural.
Por mais que os entes queridos do morto quisessem, imaginassem ou sentissem, aquele falecimento era só mais um falecimento. Assim como todo nascimento é só mais um nascimento. Nada mudou. E a vida continuou a seguir seu ciclo natural.
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