BRASIL: UMA PANELA DE PRESSÃO (OU ESTAMOS PERDIDOS)

O QUE ACONTECERÁ QUANDO A PANELA DE PRESSÃO EXPLODIR?

(SEM) INSPIRAÇÃO

HOJE ACORDEI INSPIRADO. MAS ACHO QUE EXPIREI.

SOBRE SER CULTO

A VIDA NÃO SE RESUME AO FACEBOOK.

A REVOLUÇÃO DOS MACACOS

SOMOS TODOS MACACOS, ALGUNS MAIS MACACOS QUE OUTROS.

NU

HOJE ME DEU VONTADE DE ESTAR NU.

30 junho 2014

Enterro

30 de junho de 2014

Todos andavam lentamente em direção ao corpo inanimado que, outrora, estava repleto de vida. O céu se mostrava triste, nublado e cinza, e o tempo, sem vento, dava a impressão de que aquele momento ficaria paralisado para sempre.

Logo atrás do caixão, caminhavam quatro beatas, que velavam o falecido com velas e lágrimas, sussurrando de forma ininterrupta uma reza indecifrável.

Eram quatro os homens que carregavam o caixão. Dois deles possuíam um corpo atlético. Destes, um usava camisa regata e, seus braços, fortes, inflavam devido ao esforço. Quatro dos presentes observavam o homem atlético dos braços despidos com desejo. Entre eles, uma menina de 15 anos. Entre eles, uma das tias do falecido. Entre eles, uma das beatas. Entre eles, um rapaz.

Três crianças estavam entediadas.

A maior parte dos adultos vestia preto. O restante optou por cores com tonalidade escura. Apenas um homem se destacava com sua camisa verde fosforescente.

Caminhavam na marcha fúnebre parentes do falecido. Amigos do falecido. A esposa e seus dois filhos. Sua amante. Conhecidos do falecido. E também pessoas que mal o conheciam, mas estavam lá por obrigação social.

Foram ditas 154 vezes a frase “meus pêsames” à viúva.

O corpo do falecido se encontrava pálido, como o de um morto. Gelado, como o de um morto. Mas ainda conservava um sutil sorriso irônico.

O coveiro já estava a postos. Trabalhava naquele ramo há vários anos e, de tantos anos, perdeu as contas de quantas covas abrira desde então. Aquela seria apenas mais uma, de mais um dia que preencheria sua rotina. As lágrimas dos outros já não o sensibilizava mais.

Era outono, e as árvores do cemitério tinham suas folhas secas. Pouco antes de baixarem o caixão para dentro da cova, uma leve brisa se iniciou e uma fresta de luz surgiu entre as nuvens.

Todos os presentes ficaram impressionados com essa mudança no tempo. Mas, não. Aquilo não era um sinal. Da mesma forma, um céu nublado não quer dizer nada além da possibilidade de precipitação e as folhas sem vida significam apenas que o outono chegou.

Quando o caixão encontrou, enfim, o seu inevitável destino, as nuvens, o vento e as variações climáticas continuaram alheias a tudo, seguindo seu curso natural.

Por mais que os entes queridos do morto quisessem, imaginassem ou sentissem, aquele falecimento era só mais um falecimento. Assim como todo nascimento é só mais um nascimento. Nada mudou. E a vida continuou a seguir seu ciclo natural.

10 junho 2014

Vai ter Copa ou não vai?

10 de junho de 2014

Na minha casa vai ter copa.

Na verdade, minha casa tem copa desde que foi construída. Meus pais quiseram assim. "Divide melhor a casa", afirmaram eles. Na copa de casa só existe uma mesa de jantar. Porém, nem sempre jantamos nela. Seria a copa de casa, então, um elefante branco? É algo a se pensar.
Mas nem todas as casas tem copa. E nem todas as pessoas tem casa. Algumas casas não tem pessoas. Já a Casa do Povo deve ter copa. Só não deve ter povo.

Na casa do meu avô também tem copas. Pensando bem, não é bem na casa, mas sim no baralho. Com seus quase 90 anos, é um truqueiro de mão cheia. Olha, sorrateiro, pro seu parceiro de jogatina, e levanta a sobrancelha avisando tem carta boa na mão. Poderia ser o zape. Mas - ele sabe - um copas é sempre bem vindo.

No mundo de Mário também tem Koopa. Koopa, no mundo de Mário, é sinônimo de vilania. O Koopa do mundo de Mário já sequestrou uma princesa, jogou bombas e subiu em um balão com rosto de palhaço. Por outro lado, nunca tirou pessoas de suas casas, não superfatura estádios e não matou operários.

Se, na história de Alice, a Rainha de Copas joga criquet, por aqui, a Copa do Mundo joga futebol. Serão 32 países e, dizem, mais de um bilhão de pessoas assistindo, além de um milhão de turistas estrangeiros. Pra minha mãe não vai ter Copa. Ela diz que fica "muito nervosa quando tem jogo do Brasil". Tenho amigos que vão ao estádio ver o jogo e estão felizes da vida. Alguns vão protestar. Outros, ainda, assistir pela telinha.

O Koopa continua sendo um vilão. E meu avô continua jogando seu baralho.

- Truco! - gritou ele.
- Seis!
- Nove!
- Doze! - disse o adversário, mostrando o zape.
E meu avô perdeu, com o copas na mão.

06 junho 2014

Hábraço?

6 de junho de 2014

Precisamos trabalhar mais nossos abraços.
Antes até do que o beijo, mais até que do que a palavra.
Não ter medo da distância que diminui.
Do corpo com corpo
que, de tão próximo,
quase se torna um.

Sentir a respiração do outro.
Sem tapinhas desajeitados nas costas.
Abraço bom tem pressão,
troca de calor e de energia.
Hoje vou abraçar o mundo,
começando pelo primeiro desconhecido que encontrar na rua
sem pedir permissão.

04 junho 2014

Tragédia cotidiana

4 de junho de 2014

Acordar, trabalhar e dormir. No meio disso, comer, beber, mijar, cagar e se limpar. Para realiza-los, falar, andar, ouvir, pensar e mover. O coração bate, o pulmão respira. Compras, às vezes. Viagens, às vezes. Mesmos lugares, mesmas pessoas, mesmas conversas.

Nelson Rodrigues e suas tragédias. Teatro grego e suas tragédias. Mas a maior de todas é a do cotidiano. Dura uma vida e, de tão trágica, não se transforma em peça teatral.

01 junho 2014

X-Men: Um filme sobre nós

1 de junho de 2014

X-Men não é uma história de mutantes. Ou melhor, é bem mais que isso. O novo filme da série, intitulado "X-Men - Dias de um futuro esquecido", fala sobre nós. E é por esta razão que Wolverine e sua trupe conseguem fazer desta, uma obra equivalente aos ótimos "Batman - O Cavaleiro das Trevas" e "Watchmen", e superior a quaisquer outros heróis, sejam de Stan Lee ou outro autor.

A película se inicia num futuro apocalíptico, onde mutantes estão sendo aniquilados por robôs adaptáveis chamados de Sentinelas. Resta a Wolverine voltar no tempo e tentar reescrever a história. E, neste passado, vemos um Professor Charles Xavier amedrontado, um Magneto consciente de seu lugar e uma Mística que se torna a chave de toda a história. A saga dos mutantes não trata de heroísmo, mas sim de sobrevivência. É a história de uma minoria fantástica e com um potencial incrível que é subjugada por sua aparência e por sua diferença, e que luta, cada qual a sua maneira, por respeito e reconhecimento.

Mística é, talvez, a personificação desta ideia. Transmorfa, pode ser quem quiser. Mas ela não quer ser ninguém além dela mesma. Assim como os integrantes de todas as minorias, sejam elas reais ou ficcionais, Mística não pediu para nascer assim. Ao mesmo tempo, não tem vergonha do que é. Ao contrário, sem essa diferença seria outra pessoa, uma pessoa que não quer ser. Mística é o que é. Assim como todos deveríamos ser o que somos.

Em "X-Men - Dias de um futuro esquecido" não há dicotomia entre bem ou mal porque, assim como na vida real, não há personagens com escolhas totalmente corretas ou equivocadas. O filme angustia. Em parte pelo sofrimento de personagens queridos e em outra por identificarmos semelhanças entre o nosso mundo e o deles. Ao final da película, os mutantes mostram que, apesar de seus poderes, não são invencíveis. Porém, conseguem nos fazer refletir, pois têm algo que Super-Man e Capitão América jamais terão: humanidade.