BRASIL: UMA PANELA DE PRESSÃO (OU ESTAMOS PERDIDOS)

O QUE ACONTECERÁ QUANDO A PANELA DE PRESSÃO EXPLODIR?

(SEM) INSPIRAÇÃO

HOJE ACORDEI INSPIRADO. MAS ACHO QUE EXPIREI.

SOBRE SER CULTO

A VIDA NÃO SE RESUME AO FACEBOOK.

A REVOLUÇÃO DOS MACACOS

SOMOS TODOS MACACOS, ALGUNS MAIS MACACOS QUE OUTROS.

NU

HOJE ME DEU VONTADE DE ESTAR NU.

28 julho 2014

“História da Eternidade”: A seca do nordeste não é só de água

O filme “História da Eternidade” foi o penúltimo a ser apresentado no 6° Festival de Cinema de Paulínia. Chegou tímido, já que a grande atração da noite seria “Infância”, estrelado por Fernanda Montenegro. Chegou e ficou. Ficou com cinco prêmios, entre eles o de Melhor Filme, Melhor Direção para Camilo Cavalcante, Melhor Ator para Irandhir Santos e Melhor Atriz divididos entre as três protagonistas Marcélia Cartaxo, Zezita Matos e Debora Ingrid, e se consagrou como o grande vencedor do festival.

O primeiro longa-metragem de Camilo Cavalcante se passa em pleno sertão nordestino. Porém, vai além dos clichês seca e miséria do qual estamos acostumados. As tragédias contadas pelo olhar sensível de Cavalcante, tal como nas obras de Nelson Rodrigues, não é material, mas humana.

"História da Eternidade" retrata três histórias de amor em um vilarejo do sertão nordestino. Uma delas mostra a trajetória de uma viúva, vivida por Marcélia Cartaxo, que acaba se entregando aos encantos do rapaz cego do vilarejo. A segunda trata da narrativa de uma avó, interpretada pela ótima Zezita Matos, que recebe o neto, fugido de São Paulo após se envolver com criminosos na capital paulista. Mas o grande destaque é a história de Joãozinho, um artista epiléptico, vivido de forma brilhante por Irandhir Santos, que ajuda a sobrinha (Debora Ingrid) a ver o mar pela primeira vez.

Não faltam cenas bonitas e impactantes no longa. As câmeras vivas do diretor agem quase como um personagem adicional do filme, mostrando ângulos de beleza estética ímpar, como na cena em que o personagem de Irandhir Santos realiza uma performance ao som da música “Fala”, do grupo Secos e Molhados. O personagem nos faz questionar sobre como ser artista em pleno sertão nordestino. Mas acho que também nos questiona sobre como ser artista em nosso país.

O longa atingiu em cheio os espectadores, que aplaudiram por duas vezes cenas soltas do filme. Atingiu porque foi poético e corajoso. E o principal: abandonou os clichês, pois, ao contrário dos outros filmes que retratam o sertão nordestino, em “História da Eternidade” a grande tragédia dos personagens acontece quando a chuva aparece. A seca do nordeste – e talvez do mundo – é mais que de água, é de amor.

24 julho 2014

Terra da Solidão

24 de julho de 2014

Eu vivo na Terra da Solidão.
Onde viver a dois é também viver só.
Aqui há crise de representação.
E toda apresentação mais parece um monólogo.
Sinceramente,
Eu pretendo me mudar logo
Desta terra da solidão.

Na esquina de minha rua há um filhote abandonado.
Há um filhote abandonado na esquina de minha rua.
Há uma criança abandonada na sala de minha casa.
E essa criança sou eu.
E essa criança é minha.
Mas – Meu Deus! – quem teve coragem de abandonar o filhote na esquina?

A minha terra é feita de solidão e de pessoas.
Cada vez mais pessoas.
Cada vez mais solidão.
Cada vez menos terra.
Cada vez mais distância.

Eu sou da Terra da Solidão,
Onde cada pessoa é uma ilha.
Nada me difere dos que aqui estão.
Sua terra é melhor que a minha?
Me leve, me mostre a saída.
Vou me exilar da Terra da Solidão.
Para que eu possa viver só em outro lugar.

22 julho 2014

Herói e heroína

22 de julho de 2014

Vamos falar de herói. Vamos falar de heroína.
O verdadeiro herói é anônimo. A verdadeira heroína é proibida.

Heróis famosos têm uniformes estilosos e corpos atléticos.
Se transformaram devido a grandes acontecimentos ou por fatores genéticos.
Já os heróis de verdade apenas nascem. Cantam. Choram. Nos fazem chorar. Trabalham. Alguns se drogam.
Onde está minha heroína? Me passa, então, um lanche com Itubaína, ou qualquer outra droga industrializada barata.

Heróis de verdade sangram. E morrem desconhecidos.
Heroínas estão sempre à margem.

Me diga o nome de sua heroína.
Você tem heroína?
Você tem?
Tem?

15 julho 2014

A extinção dos "machos de verdade"

15 de julho de 2014

A Revista Veja publicou no dia 14 de julho, um dia antes do Dia Nacional do Homem, um texto de autoria do colunista Rodrigo Constantino intitulado "Onde foram parar os machos?", que questiona a chamada "sensibilização" do homem moderno e idolatra uma espécie que, segundo o colunista, está em extinção: o "macho de verdade".

Destilando todo seu sarcasmo, Constantino ainda estampa em seu texto uma foto do cartunista Laerte Coutinho, um dos mais reconhecidos desenhistas e principal expoente transgênero do país, com a legenda "Laerte, o 'macho' do mundo moderno". Além disso, cita aquele que é sua maior tara intelectual, o filósofo Luiz Felipe Pondé, o mesmo que escreveu um artigo em que pergunta filosoficamente "como achar uma mulher gostosa sem pensar nela como um objeto?".

Sou obrigado a concordar com Rodrigo Constantino. O grupo nomeado por ele de "machos de verdade" está mesmo em declínio. E isso pode ser comprovado em números. Os homens brasileiros tem uma expectativa de vida de 7 anos a menos que as mulheres. O conceito de "macho", aquele infalível, que não sente ou demonstra dor ou qualquer tipo de sentimento, faz com que o homem procure menos o atendimento médico em relação às mulheres. Para o "macho de verdade", toda a importância dada ao pênis é inversamente proporcional ao intocável ânus, fazendo com que 68% dos homens entre 40 e 70 anos não tenham realizado o exame do toque, necessário para a prevenção de câncer de próstata (segundo pesquisa encomendada pela Sociedade Brasileira de Urologia). O grande motivo dessa recusa é o preconceito.

Além de cuidarem pouco de sua saúde por serem muito machos, os machos também morrem porque se matam mais do que os outros grupos. Proibidos de demonstrar afeto às pessoas com o medo da sociedade "descobrir" que também são seres sensíveis, os machos preferem amar declaradamente as coisas. Amam o futebol, esporte número um de todo "macho de verdade", e se organizam em gangues de torcida para espancarem a outra gangue que veste o uniforme diferente do dele. Até 2012, brigas ligadas ao futebol somavam 155 vítimas fatais no país. Porém, não só de futebol morrem os homens. Levantamento do IBGE de 2011 apontou que as principais vítimas de morte violenta no país são homens de 15 a 29 anos, com 14,5%. Essa taxa é ainda maior nas regiões Norte e Nordeste, terra dos cabras-machos e onde estão localizados 9 dos 10 estados com maior quantidade de ataques homofóbicos.

É por conta dessas e outras coisas que o movimento "Homens, Libertem-se", criticado por Rodrigo Constantino, foi criado. O homem machista, aquele que se vê como o pilar incostestável da família, o sustentador da casa, o pênis ereto e incansável, vem perdendo seu lugar com a ascensão e conquistas da mulher. Porém, para aqueles que forem inseguros e precisarem reafirmar sua masculinidade para o mundo, sempre haverá altas doses de testosterona em filmes como "Os Mercenários", nos livros de Felipe Pondé, nas gangues de futebol e nas doenças diagnosticadas tardiamente. Não se preocupem, Rodrigo Constantino e os outros "machos de verdade" (seja lá o que isso signifique). Pelo visto, a causa de sua extinção não será o cartunista Laerte, mas sim vocês mesmos.

Que tal aproveitarmos o Dia Nacional do Homem para repensarmos nosso papel na sociedade?

13 julho 2014

Disney, Frozen e a revolução feminista

13 de julho de 2014

Não se faz mais filmes da Disney como antigamente. E isso não é uma crítica.

Após perder espaço para animações orientais (sejam os famosos animes ou longas como o filme vencedor do Oscar “A Viagem de Chihiro”) ou mesmo para produtoras estadunidenses, como a Dreamworks de “Shrek” e a Pixar de “Toy Story”, a empresa de Mickey, que mudou a história da animação nos cinemas, teve de se adaptar aos novos tempos. E isso não foi uma tarefa fácil.

O início do novo milênio chegou com o desafio de modernização do estúdio de animação mais famoso do mundo e várias tentativas fracassadas, como “A Nova Onda do Imperador” (2000), “Atlantis – O Reino Perdido” (2001), “Nem que a vaca tussa” (2004), e “A Princesa e o Sapo” (2009). Porém, quando parecia que a Disney sucumbiria à criatividade das concorrentes e de sua recente aquisição, os Estúdios Pixar, ela descobre seu maior tesouro: ela mesma.

Mesmo com os bons “Enrolados” (2010) e “Detona Ralph” (2012), foi indiscutivelmente após o sucesso de “Frozen – Uma aventura congelante” que a  Disney redescobriu sua genialidade. A personagem Elsa, rainha e detentora de uma magia capaz de controlar o gelo, se mostrou a chave dessa mudança. A personagem simplesmente nasceu poderosa, quase numa metáfora às mulheres que cada vez mais almejam e conquistam o poder nos dias de hoje. Se antes as princesas eram todas bondosas, amáveis e frágeis, este conto dá poder e autonomia à mulher. A figura masculina fica em segundo plano. Ao contrário dos clássicos, Elsa não menciona em momento algum o desejo de se casar, ter filhos ou de viver feliz para sempre. Ao contrário, devido aos infortúnios da história, opta por se exilar do mundo.

Apesar da princesa Anna, irmã de Elsa, carregar muito da princesa clássica, existe aí também uma inversão de valores. A história de Anna se mostra o conto da gata borralheira às avessas. Se Cinderela é a moça pobre que se apaixona pelo príncipe rico, em Frozen é a vez do pobre Kristoff se apaixonar pela herdeira do trono. Isso sem falar no grande sarcasmo com que é tratado a ideia de “amor à primeira vista”, conceito alimentado ao longo das décadas pela própria Disney.

Mas a cereja do bolo está mesmo no final. Apenas um “ato de coragem” conseguiria salvar a jovem princesa Anna de seu infeliz destino de morrer congelada. E foi esta, talvez, a maior quebra de paradigmas que o filme realizou. Não foi nenhum príncipe encantado que a salvou, mas sim Elsa. As irmãs se bastam. Pela primeira vez, deu-se importância maior para a relação familiar ante a relação amorosa. O amor continua lá, como chave de toda a história. Porém, seu conceito foi ampliado e as mulheres não estão mais esperando pelo príncipe encantado. A revolução feminista chegou, enfim, às animações da Disney. E Frozen, com todo seu feminismo, conseguiu colocar a Disney nos trilhos do novo milênio.

07 julho 2014

Sobre ser culto

07 de julho de 2014

A vida não se resume ao Facebook.
Nem a minha vida, nem a sua vida.

O mundo, assim como o Facebook, não pode ser dividido entre o bem e o mal. Essa dicotomia plena existe apenas em contos de fadas.

Existem, sim, preferências e ideologias diferenciadas. Pode-se concordar ou discordar. Porém, é
preciso ter em mente que o fato de ter lido Marx não te faz um expert em política, da mesma forma que ler Stanislavski não te faz um bom ator e ler Machado de Assis não te torna uma sumidade em literatura brasileira. Há quem confunda o fato de ser culto com o de estar certo a respeito de tudo. Ser culto significa apenas dominar um grande conteúdo teórico. Hitler, Gandhi, Mussolini, Fernando Henrique Cardoso, Elke Maravilha entre outras personalidades são exemplos de pessoas consideradas cultas. Dessa forma, percebe-se que ser culto é diferente de estar correto.

Não se pode esquecer nunca que, independente de ser uma pessoa culta ou não, existe sempre o outro lado, a outra versão, o diferente ponto de vista. É necessário ter opinião sobre alguns assuntos. É importante ter uma visão crítica a respeito da política, mídia, cultura, sociedade, etc, mas, principalmente, perceber que a sua opinião, por mais correta que pareça, é apenas a sua opinião.

Não reduza uma pessoa à página de seu Facebook. O fato de curtir a página do Facebook de um político não torna a pessoa uma votante leal do mesmo, da mesma forma que curtir uma página da Valeska Popozuda não a torna necessariamente uma funkeira e o fato de postar selfies não a torna uma pessoa rasa.O fato de você ter engajamento em movimentos sociais não significa que as outras pessoas também não tenham ou que sejam obrigadas a ter.

Toda pessoa é mais que seu Facebook. E o mundo é maior que o seu mundo.

Quem quer bater um papo?

01 julho 2014

Nada

01 de julho de 2014

Desejo o nada
à quem me prometeu tudo - e apenas prometeu.
Este meu lado sombrio
que tu despertaste
Te envia agora o vazio,
o silêncio transmutado em palavras mudas.

A partir de hoje
a solidão te fará companhia.
À ti somente a melancolia.
A saudade do que jamais ocorreu.

Envio o nosso livro de páginas em branco sem história.
Com apenas um prefácio escrito
de promessas de um final feliz,
mas sem sequer um início.

Te desejo o mofo
o tédio da cidade pequena
o cheiro da casa guardada
o cotidiano e a rotina.

Te desejo o não-desejo
a perca da libido
que te tornes insone
que não sonhe
que perca
se perca
peque
peça
nade sem chegar.
Nade!
Nade!
Nada!
Nada!