28 julho 2014

“História da Eternidade”: A seca do nordeste não é só de água

O filme “História da Eternidade” foi o penúltimo a ser apresentado no 6° Festival de Cinema de Paulínia. Chegou tímido, já que a grande atração da noite seria “Infância”, estrelado por Fernanda Montenegro. Chegou e ficou. Ficou com cinco prêmios, entre eles o de Melhor Filme, Melhor Direção para Camilo Cavalcante, Melhor Ator para Irandhir Santos e Melhor Atriz divididos entre as três protagonistas Marcélia Cartaxo, Zezita Matos e Debora Ingrid, e se consagrou como o grande vencedor do festival.

O primeiro longa-metragem de Camilo Cavalcante se passa em pleno sertão nordestino. Porém, vai além dos clichês seca e miséria do qual estamos acostumados. As tragédias contadas pelo olhar sensível de Cavalcante, tal como nas obras de Nelson Rodrigues, não é material, mas humana.

"História da Eternidade" retrata três histórias de amor em um vilarejo do sertão nordestino. Uma delas mostra a trajetória de uma viúva, vivida por Marcélia Cartaxo, que acaba se entregando aos encantos do rapaz cego do vilarejo. A segunda trata da narrativa de uma avó, interpretada pela ótima Zezita Matos, que recebe o neto, fugido de São Paulo após se envolver com criminosos na capital paulista. Mas o grande destaque é a história de Joãozinho, um artista epiléptico, vivido de forma brilhante por Irandhir Santos, que ajuda a sobrinha (Debora Ingrid) a ver o mar pela primeira vez.

Não faltam cenas bonitas e impactantes no longa. As câmeras vivas do diretor agem quase como um personagem adicional do filme, mostrando ângulos de beleza estética ímpar, como na cena em que o personagem de Irandhir Santos realiza uma performance ao som da música “Fala”, do grupo Secos e Molhados. O personagem nos faz questionar sobre como ser artista em pleno sertão nordestino. Mas acho que também nos questiona sobre como ser artista em nosso país.

O longa atingiu em cheio os espectadores, que aplaudiram por duas vezes cenas soltas do filme. Atingiu porque foi poético e corajoso. E o principal: abandonou os clichês, pois, ao contrário dos outros filmes que retratam o sertão nordestino, em “História da Eternidade” a grande tragédia dos personagens acontece quando a chuva aparece. A seca do nordeste – e talvez do mundo – é mais que de água, é de amor.

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