15 de julho de 2014
A Revista Veja publicou no dia 14 de julho, um dia antes do Dia Nacional do Homem, um texto de autoria do colunista Rodrigo Constantino intitulado "Onde foram parar os machos?", que questiona a chamada "sensibilização" do homem moderno e idolatra uma espécie que, segundo o colunista, está em extinção: o "macho de verdade".
Destilando todo seu sarcasmo, Constantino ainda estampa em seu texto uma foto do cartunista Laerte Coutinho, um dos mais reconhecidos desenhistas e principal expoente transgênero do país, com a legenda "Laerte, o 'macho' do mundo moderno". Além disso, cita aquele que é sua maior tara intelectual, o filósofo Luiz Felipe Pondé, o mesmo que escreveu um artigo em que pergunta filosoficamente "como achar uma mulher gostosa sem pensar nela como um objeto?".
Sou obrigado a concordar com Rodrigo Constantino. O grupo nomeado por ele de "machos de verdade" está mesmo em declínio. E isso pode ser comprovado em números. Os homens brasileiros tem uma expectativa de vida de 7 anos a menos que as mulheres. O conceito de "macho", aquele infalível, que não sente ou demonstra dor ou qualquer tipo de sentimento, faz com que o homem procure menos o atendimento médico em relação às mulheres. Para o "macho de verdade", toda a importância dada ao pênis é inversamente proporcional ao intocável ânus, fazendo com que 68% dos homens entre 40 e 70 anos não tenham realizado o exame do toque, necessário para a prevenção de câncer de próstata (segundo pesquisa encomendada pela Sociedade Brasileira de Urologia). O grande motivo dessa recusa é o preconceito.
Além de cuidarem pouco de sua saúde por serem muito machos, os machos também morrem porque se matam mais do que os outros grupos. Proibidos de demonstrar afeto às pessoas com o medo da sociedade "descobrir" que também são seres sensíveis, os machos preferem amar declaradamente as coisas. Amam o futebol, esporte número um de todo "macho de verdade", e se organizam em gangues de torcida para espancarem a outra gangue que veste o uniforme diferente do dele. Até 2012, brigas ligadas ao futebol somavam 155 vítimas fatais no país. Porém, não só de futebol morrem os homens. Levantamento do IBGE de 2011 apontou que as principais vítimas de morte violenta no país são homens de 15 a 29 anos, com 14,5%. Essa taxa é ainda maior nas regiões Norte e Nordeste, terra dos cabras-machos e onde estão localizados 9 dos 10 estados com maior quantidade de ataques homofóbicos.
É por conta dessas e outras coisas que o movimento "Homens, Libertem-se", criticado por Rodrigo Constantino, foi criado. O homem machista, aquele que se vê como o pilar incostestável da família, o sustentador da casa, o pênis ereto e incansável, vem perdendo seu lugar com a ascensão e conquistas da mulher. Porém, para aqueles que forem inseguros e precisarem reafirmar sua masculinidade para o mundo, sempre haverá altas doses de testosterona em filmes como "Os Mercenários", nos livros de Felipe Pondé, nas gangues de futebol e nas doenças diagnosticadas tardiamente. Não se preocupem, Rodrigo Constantino e os outros "machos de verdade" (seja lá o que isso signifique). Pelo visto, a causa de sua extinção não será o cartunista Laerte, mas sim vocês mesmos.
Que tal aproveitarmos o Dia Nacional do Homem para repensarmos nosso papel na sociedade?
Que tal aproveitarmos o Dia Nacional do Homem para repensarmos nosso papel na sociedade?
5 Comentários:
perfeito.
Resumiu bem o que penso a respeito desse assunto.
Genial o seu texto. O modo como você consegue ir contra o texto de Constantino foi bárbaro! Parabéns.
O autor desse texto não é macho!!!
Descobri este seu texto por acaso. Muito bom, gostaria de publicá-lo no meu blog, se você anuir. Abraço.
Patricia Ubert, LITERALMENTE.
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