18 setembro 2014

Os consumidores da violência cotidiana

Dia 18 de setembro de 2014

"Falta alguém espremer o jornal pra sair sangue", cantava o sambista Roberto Silva no ano de 1961. A música "Jornal da Morte", composta por Miguel Gustavo e interpretada também por Nação Zumbi e Casuarina, ainda está muito atual, denunciando os meios de comunicação por se aproveitarem do sofrimento do povo para se promover. 

Datena, Marcelo Rezende e outros apresentadores locais se destacam por enfatizar a morte e a violência a todo momento. O assassinato da desconhecida da esquina se transforma em matéria de nível nacional, que é sucedida pela morte chocante de trânsito do Seu Joaquim, e depois por outra matéria, e por outra, e por outra. Pois o fato, por si só, não se sustenta, já que tratam a violência cotidiana exclusivamente como caso policial, e não social. "Tem que ir pra cadeia", esbraveja o apresentador. "É tudo bandido", berra o outro. Encarnam personagens aparentemente super-poderosos, mas com discurso que cai no lugar-comum, acrítico e raso. 

Porém, se há programas e apresentadores com esse tipo enfoque, é porque há quem consuma a informação, e isso diz muito a respeito de nós. Quem são estes consumidores vorazes da tragédia cotidiana? Qual o conteúdo de publicações que você anda compartilhando em seu Facebook?

A criticidade desses telespectadores, leitores e internautas dos pequenos desastres diários é superficial. A violência é sempre problema dos outros, e eles são apenas as vítimas. São pessoas de bem. Classe média, trabalham, cuidam de sua família de forma tradicional. Assistem a programas sobre o que não é, com discursos que não são. Vivem suas vidas de forma perfeita. Pagam os impostos absurdos sem reclamar ou protestar e dizem, com orgulho, que são cidadãos exemplares. Para eles, todo político é ladrão. Toda passeata é de vagabundo. Dizem que o povo "precisa acordar" e que bom mesmo é a meritocracia. São meros reprodutores de discursos. E, de tanto consumirem violência, acabam perdendo a capacidade de se chocarem. São seres apáticos e indiferentes socialmente.

Se, segundo o dito popular, "mente vazia é oficina do diabo", o que dirá dessas mentes, ocupadas pelo que há de mais sórdido e cruel da vida dos achados anônimos de nossa imprensa?

1 Comentários:

Anônimo disse...

De quem é a culpa? Conheço gente que de tanto consumir somente esse tipo de notícia, tem medo de sair na rua. De um lado, temos o espetáculo sendo reproduzido, enquanto de outro, os espectadores que consomem como verdade absoluta.