12 maio 2014

Brasil: Uma panela de pressão (ou estamos perdidos)

12 de maio de 2014

Até as manifestações ocorridas em junho de 2013, eu jamais havia presenciado uma grande mobilização popular no país. A última de grandes proporções havia acontecido em 1992, os chamados caras-pintadas, quando eu não havia completado nem 2 anos de idade e, dessa forma, não estava consciente do que ocorria.

De 1992 pra cá, o Brasil mudou. Nós, da geração Y brasileira, crescemos com a sensação de uma certa liberdade, otimismo e estabilidade econômica - ao menos se comparada com os tempos da ditadura, recessão e hiperinflação vividos por nossos pais. E essa aparente tranquilidade abafou por mais de duas décadas um de nossos principais problemas: a instabilidade social.

Insegurança. Segundo levantamento divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), arma de fogo mata mais pessoas no Brasil do que no Iraque. O nosso pacífico país, com um número de habitantes que representa 2,8% da população mundial, registra 11% dos homicídios em todo o planeta. De acordo com o Escritório sobre Drogas e Crime das Nações Unidas, o Brasil possui 11 das 30 cidades mais violentas do mundo, se consideradas apenas aquelas com mais de 100 mil habitantes. No ano de 2012 visitei a cidade do Rio de Janeiro por duas vezes e um jornalista de uma grande emissora carioca (sim, essa mesma que vocês estão pensando), me disse em uma daquelas conversas de boteco que as chamadas UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) eram uma farsa, conversa pra gringo ver, indo contra o que eu assistia e lia até então nos meios de comunicação, que vendiam o projeto como algo revolucionário. Quem diria que pouco mais de um ano após essa conversa, o caso Amarildo viria à tona, mostrando as falhas e o autoritarismo do qual as comunidades estão expostas. Afinal, segundo o Ministério Público do Rio de Janeiro afirmou em matéria do site UOL, o caso Amarildo "não se trata de um fato isolado". Além disso, uma amiga e advogada criminalista afirmou que há uma intensa movimentação nos presídios, onde seus "moradores" afirmam que ainda neste ano haverá uma grande mobilização exigindo melhor qualidade nas penitenciárias. E essa má estrutura não é de forma alguma novidade no Brasil. O último caso de repercussão nacional foi a tortura realizada entre presos no Complexo Penitenciários de Pedrinhas, em São Luís (MA).

Transporte e mobilidade urbana. O tema que foi o estopim das manifestações de 2013 não apresentou melhoras. Empresas de transporte continuam lucrando alto para um serviço de baixa qualidade, enquanto transportes alternativos como trens, metrôs, ciclovias e transporte público marítimo são promessas ou, se existem, não suprem a demanda, seja por incapacidade administrativa ou corrupção, como demonstra a denúncia de corrupção nos metrôs da cidade de São Paulo.

Educação. O Brasil ocupa o 88° lugar na educação, em ranking elaborado pela Unesco, que conta com 127 países. Estão na nossa frente países como Azerbaijão, Tonga, Botswana, além das "mal faladas" Cuba e Venezuela.

Corrupção. Não serei redundante.

Gastos com a Copa do Mundo e Olimpíadas. Além da alta quantidade de dinheiro envolvida para sua realização e da corrupção evidente, são dois momentos em que o Brasil será o centro do mundo, boa oportunidade para manifestações ganharem destaque e força.

Imprensa tradicional. Os grandes meios de comunicação estão sendo cada vez mais desafiados, seja por meios alternativos como  internet, ou presencialmente, como se viu nas manifestações do ano passado e em outras oportunidades.

Insatisfação. Ser brasileiro é caro. Somos um dos que mais pagam impostos do mundo e temos o pior em termos de qualidade dos serviços públicos prestados à população, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT). Insatisfação também com o desempenho da presidente Dilma Roussef, seja por motivos políticos ou pessoais. Insatisfação com a situação e oposição. Insatisfação com a imprensa. Insatisfação até com mesmo as manifestações. Há um descontentamento generalizado, de todos com tudo, e com razão. Estamos dentro de uma panela de pressão insustentável. Também estamos perdidos, numa mistura perigosa de revolta e indiferença.

Dilma Roussef, Aécio Neves ou Eduardo Campos? Ou ainda alguma zebra? Talvez o personagem mais importante do Brasil na próxima década não seja um político, mas sim o povo, para o bem ou para o mal. Mas o que o faremos deste país, essa é a verdadeira incógnita. O que acontecerá quando a panela de pressão explodir?

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