28 maio 2014

Não existe amor em Campinas

28 de maio de 2014

Ei, Criolo. Campinas também é um labirinto. Menor e menos místico, mas ainda assim um labirinto. Aqui, gritam mais as pichações que os grafites. Gritam e nos questionam: Seriam crimes, ou formas de expressão? Não dá pra entender... ou não queremos nem pensar.

Os cartões postais não têm frases. Na verdade, são poucos os cartões postais daqui. A maior parte foi demolida, juntamente com sua história. Nos resta um castelo sem rei, um navio em ruínas, uma estação ferroviária de trens dormindo, um mercado popular de iguarias e um teatro bonito... porém, menos bonito que um outro demolido décadas atrás.

Os bares, os shoppings, as baladas, as igrejas, as lojas, as ruas e esquinas estão cheios de almas vazias. E de almas cheias. E almas negras, brancas, pardas e amarelas. Amarelas principalmente em lojas de R$1,99 do centro. Que não vendem mais produtos por R$1,99.

A ganância vibra, e a vaidade, o Itatinga e algumas esquinas do centro excitam. Excitam?

Devolva a minha vida... meu tempo desperdiçado nos intermináveis congestionamentos de carros e de pessoas em ônibus lotados que, muitas vezes, não cumprem horário. Devolva meu dinheiro perdido pela ganância e corrupção de quem já esteve no poder. Aqui, eles não vão para o céu... espero.

Encontro duas nuvens nos escombros da antiga rodoviária. E é um dos únicos pontos da região central, cheia de prédios, em que ainda consigo ver duas nuvens e uma fresta maior do céu.

É verdade, Criolo. Não precisa morrer pra ver Deus. Mas é preciso viver pra conseguir observar as pequenas coisas.

Não existe amor em Campinas. Ou será que existe?

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