02 setembro 2016

Um Golpe de Direita

Dia 2 de setembro de 2016

A luta foi televisionada. Não necessariamente na íntegra. Transmitiram apenas os melhores momentos. Ou melhor, o que eles julgaram ser os melhores momentos. A batalha foi editada.

Boa parte do público presente no ringue gritava o nome do desafiante. O atleta desafiado, já sabendo de sua eminente derrota, decidiu que apenas um nocaute o tiraria da luta. Uma parte do público que estava do lado de fora gritava seu nome. A última etapa da luta estava para começar.

O público presente no ringue que gritava o nome do desafiante, uma massa de gente composta, em sua maioria, por homens brancos de meia idade, sabia que ele não era um heroi ou um grande exemplo a ser seguido. Era mais um grito de ódio ao outro que de apoio a este.

Já os do lado de fora eram, a olhos nus, mais misturados, menos homogêneos. Eles gritavam o nome do cambaleante atleta. Assim como os outros, estes também sabiam que o futuro derrotado nem sempre deu à eles a atenção que mereciam. Não havia herois naquele espaço.

A batalha que, para alguns, tinha traços épicos, para outros - inclusive para mim - era travada por dois selvagens, lutando em uma selva travestida por um edifício luxuoso e por pessoas supostamente civilizadas. Não era tatame, mas ringue. Mas não era boxe. Não era MMA. Aquilo era um vale-tudo.

O juiz deu o sinal. Começou o sexto assalto. E - não se enganem! -, desse e dos outros assaltos ambos os lutadores participaram. O desafiado, mesmo cansado, permanecia de pé. O desafiante, percebendo sua fraqueza, partiu para cima e lançou-lhe um golpe. Não com os pés, não com a cabeça. Mas, sim, com a mão. Com a mão direita. O golpe de direita acertou diretamente seu oponente, que caiu e lá permaneceu até o final da contagem.

O desafiante conquistou a faixa e se tornou o novo campeão. Dias após a batalha, o perdedor não se conformava com o golpe que levou, dizendo ter sido irregular. E foi mais além: denunciou que os juízes haviam sido comprados. Um verdadeiro escândalo que, obviamente, não foi incluído na edição transmitida pela televisão. Se isso foi verdade, não se sabe. A única certeza é que, de fato, alguns milhares de reais a mais têm aparecido mensalmente nas contas bancárias dos juízes.

Mas não se preocupem. As coisas nem mudaram tanto. O atleta nocauteado está bem de saúde, liberado pelo departamento médico para participar de outras lutas. O mais novo campeão continua sem grande popularidade. O público mantém seu ódio. A televisão permanece editando.

O novo vencedor, aliás, parece ser imbatível. Alguns o estão comparando até com um dos maiores lutadores da história: o famoso campeão de 1964.


-------- in English --------

Right Punch

September 2nd, 2016


The fight was televised. Not necessarily in full. Only the best moments was transmitted - or rather, just what they judged to be the best times. The battle was edited.

Almost all of the audience shouted in the ring the challenger's name. The challenged athlete, knowing of his imminent defeat, decided that only a knockout would remove him from fighting. A part of the audience that was outside shouting his name. The last stage of the struggle was to begin.



The crowd in the ring who was shoutting the challenger's name, a folk mass composed mostly by white middle-aged men who knew he was not a hero or a great example to follow. It was more a hate against the other fighter than to support him.



Outside were, the people was obvious more mixed, less homogeneous. Women, black, artists, homosexuals and other groups shouted the name of tottering athlete. Like the others, they also knew that the future defeated fighter not always gave them the attention they deserved. There were no heroes in that place.


The battle had epic traits for some people. But to others - including me - it was fought by two wild beasts. After all, it was a jungle disguised by a luxurious building and supposedly civilized people. It was not tatami, but ring. But it was not boxing. It was not MMA. It was a fight with no rules.

The judge gave the signal. The sixth round* has begun. And - make no mistakes! - both of fighters this participated of this and the
 other rounds. The challenged, even tired, stood. The challenger, knowing his weakness, went up and gave him a blow. Not with his feet, not with his head. But with his hands. With his right hand. The right punch strike directly hit your opponent, who fell and remained there until the end of the count.

The challenger won the track and became the new champion. Days after the battle, the loser didn't conform to the punch that he brought, saying the other fighter had been irregular. And he went further reported that the judges had been bought. A scandal. But, obviously, it was not included in the edition broadcast on television. If it was true, I don't know. The only certainty is that, in fact, a few thousand dolars more have appeared monthly in the bank accounts of the judges.

But don't worry. The things doesn't have changed so much. The knocked out athlete 
is in good health, released by the medical department to participate in other fights. The youngest champion continues without great popularity. The public keeps his hatred. Television remains editing.

The new winner, incidentally, seems to be unbeatable. Some are even comparing him with one of the greatest fighters in history: the famous 1964 champion.

*In portuguese, round and assault are the same word

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