03 janeiro 2014

Embrulho

Vamos cantar nossas tristezas


E transformar todas as desgraças em arte.
Vamos eternizar a eterna miséria humana na fotografia de uma criança morrendo de fome.

Tirar um retrato de nós, humanos, causadores de tudo, e exibi-lo na cabeceira de nossa cama.
Gravar na memória a vista cinza de nossa janela, tal como as selvas de pedras criadas pela modernidade.
Ler poesias de amores não correspondidos. Cá entre nós, são sempre as mais bonitas.
Ir ao teatro assistir às tragédias gregas, e perceber que elas também são nossas.

Que todos nós possamos assistir a essas desgraças em alguma emissora banal de televisão de nosso país, enquanto nos embebedamos e nos drogamos com os produtos industrializados que nos é vendido.

E, por fim, que consigamos reunir todos esses arquivos e documentos para enviá-los em um embrulho bem bonito para o céu, tendo Deus, nossa imagem e semelhança, como remetente.

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