Eles tinham caras de boi. Moravam bem longe, em suas casas de boi, e a distância era propositalmente grande. Comiam comidas de boi, mais especificamente ração - ou seria pão e circo? Vestiam roupas de boi, ouviam músicas de boi, andavam como bois, com bois, entre bois. Eram bois? Não. Mas, no final, sempre eram abatidos como tal.
Assim como os bois, que são contados por cabeça, eles também viravam simples estatísticas. Os homens da cidade não os conheciam pessoalmente, assim como não conheciam pessoalmente os bois de verdade, mas apenas por jornais ou pela televisão. A espécie dos dois grupos era a mesma. Mas viviam separados porque apenas um deles tinha pedigree.
Os bois, então, cansados de serem servidos no rolete, decidiram organizar um rolê. Os homens da cidade acabaram se assustando com os bois no rolê, afinal, nunca tinham visto esses animais de perto. E os bois, pensavam consigo que aquela era a primeira vez que entravam no território destes outros animais: os homens.
Ninguém sabe ao certo o que originou o caos. Foi o instinto selvagem dos bois que floresceu sem que ninguém esperasse? Ou será que, cansados de serem tratados em seu próprio território como animais, os bois decidiram se rebelar contra os homens da cidade? Talvez os bois não sejam tão animais. Talvez os homens da cidade sejam também um pouco selvagens.
Sabe-se apenas que os bois foram proibidos de andar na cidade dos homens. Pensando bem, eles nunca foram permitidos por lá.
Mas, apesar de seu rolê ter sido proibido, até hoje, diariamente, um boi é servido no rolete.
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