BRASIL: UMA PANELA DE PRESSÃO (OU ESTAMOS PERDIDOS)

O QUE ACONTECERÁ QUANDO A PANELA DE PRESSÃO EXPLODIR?

(SEM) INSPIRAÇÃO

HOJE ACORDEI INSPIRADO. MAS ACHO QUE EXPIREI.

SOBRE SER CULTO

A VIDA NÃO SE RESUME AO FACEBOOK.

A REVOLUÇÃO DOS MACACOS

SOMOS TODOS MACACOS, ALGUNS MAIS MACACOS QUE OUTROS.

NU

HOJE ME DEU VONTADE DE ESTAR NU.

14 janeiro 2014

Poema

- Ema...
- Oe?
- Má!
- Em?
- Põe.
- Põe?
- Pô, Ema. Poema.

13 janeiro 2014

Bois no rolê

Eles tinham caras de boi. Moravam bem longe, em suas casas de boi, e a distância era propositalmente grande. Comiam comidas de boi, mais especificamente ração - ou seria pão e circo? Vestiam roupas de boi, ouviam músicas de boi, andavam como bois, com bois, entre bois. Eram bois? Não. Mas, no final, sempre eram abatidos como tal.

Assim como os bois, que são contados por cabeça, eles também viravam simples estatísticas. Os homens da cidade não os conheciam pessoalmente, assim como não conheciam pessoalmente os bois de verdade, mas apenas por jornais ou pela televisão. A espécie dos dois grupos era a mesma. Mas viviam separados porque apenas um deles tinha pedigree.

Os bois, então, cansados de serem servidos no rolete, decidiram organizar um rolê. Os homens da cidade acabaram se assustando com os bois no rolê, afinal,  nunca tinham visto esses animais de perto. E os bois, pensavam consigo que aquela era a primeira vez que entravam no território destes outros animais: os homens.

Ninguém sabe ao certo o que originou o caos. Foi o instinto selvagem dos bois que floresceu sem que ninguém esperasse? Ou será que, cansados de serem tratados em seu próprio território como animais, os bois decidiram se rebelar contra os homens da cidade? Talvez os bois não sejam tão animais. Talvez os homens da cidade sejam também um pouco selvagens.

Sabe-se apenas que os bois foram proibidos de andar na cidade dos homens. Pensando bem, eles nunca foram permitidos por lá.

Mas, apesar de seu rolê ter sido proibido, até hoje, diariamente, um boi é servido no rolete.

09 janeiro 2014

A arte está Dadá

Pergunta: o que Dadaísmo, apresentações de Stand Up e a música "Ai, Se eu Te Pego" (entre outras) têm em comum?

Resposta: Nada. O nada.

Quando o jovem Tristan Tzara, no ano de 1916, idealizou o movimento de contra-cultura chamado Dadaísmo, ou Dadá, não imaginou - e, talvez, nem quisesse - que, depois de quase um século, sua ideia de transformar as obras artísticas em algo vazio fosse de fato se tornar a forma vigente de se fazer cultura.

É claro. É preciso ponderar. Na época em que essa escola foi criada, na cidade suiça de Zurique, durante a Primeira Guerra Mundial, seu grande objetivo era a ruptura com as formas tradicionais de arte, que se preocupavam apenas em retratar o modo de vida burguês. Marcada pela irreverência artística, combate às formas de arte institucionalizadas e ao capitalismo e consumismo, suas obras, que à primeira vista poderiam ser tratadas como banais, possuíam uma carga crítica bastante elevada. E, assim como na época Dadá, vivemos um momento de não-arte. Porém, infelizmente, nesse "Neodadaísmo", o conteúdo crítico da centenária escola artística originada na Suiça foi deixado de lado.

"Fontaine", obra dadaísta de
Marcel Duchamp
Tal como "Fontaine", a obra dadaísta mais famosa de todas, as apresentações de Stand Up, que lotam as casas de shows e teatros do Brasil inteiro, fazem de situações cotidianas e rasas um objeto passível de ser apresentado como arte, ou pelo menos, de dividir o mesmo espaço das artes tradicionais. Teatros do país dividem sua agenda entre apresentações de peças tradicionais e estes.... estes... atores? Humoristas? Um pouco dos dois? É difícil até nomeá-los, pois não são personagens, já que utilizam seu próprio nome na apresentação, mas também não são eles mesmos, pois o público não se preocupa se aquela história banal que está sendo contada é real ou ficcional. A existência ou não da quarta parede pouco importa. O público quer apenas rir. E ri. Ou não. E sai de lá da mesma forma que entrou.

As músicas atuais, como "Ai se eu Te Pego", o maior sucesso em português dos últimos anos, cantada por Michel Teló, não foge à essa regra. O cotidiano banal se transforma em música. Prioriza-se o comum em detrimento de um pensamento mais refinado. Mais que isso, a chamada 1ª arte foi invadidas por onomatopeias, como nas músicas "Tchê tchererê tchê tchê" e "Tchu tchá", lembrando os famosos poemas dadaístas. A proposta desses poemas é simples: pegar uma tesoura e um jornal, e recortar palavras aleatórias, misturá-las, e, com elas, formar um texto desconexo. Essas construções textuais, realizadas quase de forma mecânica, se assemelham às músicas atuais, padronizadas e industrializadas.

A arte está Dadá, mas sem sua genialidade. E aquela arte com caráter crítico, assim como no século passado, faz a vez de contra-cultura que, ironicamente, era o papel do movimento dadaísta. Se antigamente, a produção cultural era mantida pela burguesia, hoje quem a mantém é a indústria capitalista. E a vanguarda artística se faz cada vez mais necessária. A vanguarda é o lugar da verdadeira arte. Uma arte acrítica perde seu principal objetivo: transformar as pessoas.

06 janeiro 2014

Viver é matar

Matamos tempo.
Dinheiro.
Oportunidades.

Cada escolha é uma morte.
A morte da escolha que nunca foi.
Todo "não" que falamos é um gatilho puxado por nós.

Matamos porque não temos escolha.
Somos assassinos de nós mesmos. Sentenciadores do nosso destino. Juízes de nossa realidade.

Entretanto, para cada opção deixada de lado, existe uma que foi realizada.
Para cada assassinato de escolhas, um nascimento de possibilidades. E depois, outra morte.

Viver é matar.

03 janeiro 2014

Crise Gramatical

O papel era normal. Branco, tamanho A4, e as letras, juntas, formavam uma história interessante sobre algum personagem qualquer. Toda essa aparente tranquilidade foi quebrada, quando o Ponto de Exclamação começou a gritar enraivecido:

- Está tudo errado! Está tudo errado!

O Ponto de Interrogação logo questionou-o:

- O que houve, Exclamação? Por que está gritando?

- Eu não aguento! Aquela Cedilha é uma inútil! Não sei por que ela existe! Só atrapalha a minha vida!

A Interrogação avistou em um canto a Cedilha chorando inconsolavelmente, e decidiu tentar acalmá-la.

-Minha cara Cedilha, por que está chorando tanto? Não vê que não vale a pena dar importância para os ataques de fúria da Exclamação?

- Não é ‘iÇo’ não, Dona Interrogação. A Exclamação ‘diÇe’ que eu só atrapalho. Que a tal da ‘Letra Éçe’ é bem melhor que eu.

-Pare de choramingar! – interrompeu a Exclamação.

A Interrogação estava perdida. Não sabia o que fazer. Até que avistou o sábio Ponto Final e decidiu pedir ajuda.

- Sr. Final, você consegue ajudar a resolver o problema? Viu como está tudo bagunçado?

E realmente estava. Todos os pontos e até algumas letras mais curiosas tinham saído do seu lugar. O livro todo estava uma bagunça. O Ponto Final, com toda sua convicção, tentou acalmar as coisas.

- Dona Cedilha. Dona Exclamação. Aconselho as duas a colocar um ponto final em toda essa discussão.

- Mas é muito petulância mesmo! O Ponto Final pensa que tudo gira em torno dele! – respondeu, arrogante, a Exclamação.

-O que farei agora? – questionou-se a interrogação.

Cedilha continuava chorando. Ponto Final quase perdeu o controle. Exclamação berrava. Interrogação estava perdida. Até que a louca da Reticencia apareceu.

- Será que vocês... – disse a Reticencia mas, como sempre, sem completar a frase.

- Nós o quê? – perguntou a Interrogação.

- Você não acham...

- Cacete! Completa uma frase pelo menos, sua doida! – gritou a Exclamação.

- VOCÊS SE INCOMODAM DE EU NÃO COMPLETAR UMA FRASE, MAS NÃO LIGAM DO LIVRO ESTAR TODO BAGUNÇADO!? TEM UM CARA TENTANDO LER O LIVRO, MAS NÃO CONSEGUE LER UMA FRASE SEQUER. PREOCUPEM-SE MENOS COMIGO, E MAIS COM SEU TRABALHO! BANDO DE HIPÓCRITAS! – berrou a Reticencia, num lapso de lucidez.

Todos ficaram calados, espantados com Reticencia. Abaixaram as cabeças e voltaram a seus lugares. Tudo voltava ao normal.

- Será que... – disse para si mesma a Reticencia.

Existência

Meus amores ainda não existem.
Se existem, desconheço.
Se desconheço, existem?

Não sei se percebe, mas estou me afastando.
Me afastando daquilo que eu não quero
Daquilo que eu não sou
Do que não me agrada
e do que passou.

Não é um afastamento criminoso;
eu não abandonei ninguém.
Estou me afastando para me aproximar de mim.
Estou me afastando porque um dia já abandonei a mim.

O Erro

Um corpo caiu do 10° andar.

Foi de encontro ao chão em uma velocidade surpreendente. A ciência diria que são os efeitos da gravidade, mas eu diria mais. De tão rápido que chegou ao solo, parecia estar escrito que aquele seria seu destino final. Por sorte, nenhum transeunte foi atingido.

Porém, não havia como o barulho passar despercebido. As pessoas, curiosas, chegaram mais perto. Havia pedaços para todos os lados. O chão foi tingido de vermelho. Ninguém entendia ao certo o que havia motivado a queda. Mas pôde-se avistar, no ultimo andar do prédio, uma pessoa aparentemente inquieta, debruçada em uma janela e olhando diretamente para o local.

- Aquela pessoa na janela deve ser o responsável! - gritou um dos curiosos.

Os transeuntes foram cada vez mais se aglomerando, sem saber ao certo que atitude tomar. Minutos se passaram até que uma pessoa se manifestou de forma inesperada.

- Acalmem-se. Isso não passa de um grande erro. - disse.

- O que quer dizer com isso? - questionou o outro.

- Eu sou o morador do décimo andar. Eu fui o responsável pela queda.

Os pedestres ficaram aterrorizados. "Mas então ele é o assassino?", questionou-se um. "Ligarei para a polícia!", pensou outro.

- Antes de tomarem qualquer atitude precipitada, lhes contarei o que está acontecendo. Eu estava em meu apartamento, sozinho, bebendo vinho como de costume. Em decorrência da alta temperatura, caminhei próximo da janela e, então, sem querer, aconteceu.

- Mas não faz sentido. Se você estava sozinho, como isso pode ter acontecido? - questionou o grupo.

- Nós todos somos personagens de um conto. Eu apenas derrubei um copo de vinho pela janela do apartamento. O escritor deste conto é que cometeu um equívoco. Ao invés de escrever COPO, digitou CORPO. Não há um assassinato aqui, apenas um erro de digitação.

As pessoas olharam para o copo estilhaçado no chão. A faxineira já se encarregava da limpeza. As pessoas começaram a voltar para seu cotidiano. E o morador do 10° andar ficou triste, pois aqueles eram os últimos mililitros de seu melhor vinho.

Embrulho

Vamos cantar nossas tristezas

E transformar todas as desgraças em arte.
Vamos eternizar a eterna miséria humana na fotografia de uma criança morrendo de fome.

Tirar um retrato de nós, humanos, causadores de tudo, e exibi-lo na cabeceira de nossa cama.
Gravar na memória a vista cinza de nossa janela, tal como as selvas de pedras criadas pela modernidade.
Ler poesias de amores não correspondidos. Cá entre nós, são sempre as mais bonitas.
Ir ao teatro assistir às tragédias gregas, e perceber que elas também são nossas.

Que todos nós possamos assistir a essas desgraças em alguma emissora banal de televisão de nosso país, enquanto nos embebedamos e nos drogamos com os produtos industrializados que nos é vendido.

E, por fim, que consigamos reunir todos esses arquivos e documentos para enviá-los em um embrulho bem bonito para o céu, tendo Deus, nossa imagem e semelhança, como remetente.

Tempo de reflexão

Era para ser uma bomba.

Era para a bomba explodir.

A bomba em questão é figurativa.

A explosão em questão é uma metáfora.

Mais que uma figura de linguagem, ela é ficção.

Pois não existiu, não conseguiram implantar.

O ano de 2014 chegou me dando uma grande lição. Apenas o que permitimos é o que nos atinge. E que só me atinjam histórias bonitas, pessoas sinceras, amizades antigas e novas experiências, pois é apenas isso o que permitirei.

Desarme todas as bombas do seu caminho.

Feliz 2014 a todos.