20 janeiro 2015

Os Mortos da Consolação

Dia 20 de janeiro de 2015

A megalomania dos tempos áureos da aristocracia paulista não acaba após a morte. Vai além dela. Quem nasce Silva não morre Matarazzo. O Cemitério da Consolação, localizado na cidade de São Paulo, é a prova viva - com o perdão do trocadilho - da desigualdade social e do status presente até mesmo entre os mortos.

Ali estão enterradas figuras conhecidas de nossa história, como Monteiro Lobato, Ramos
de Azevedo e Oswald de Andrade, da nobreza, como Marquesa de Santos e Barão de Anhumas, além dos ex-presidentes Washington Luiz e Campos Sales - este último, campineiro. Cada um repousando tranquilamente em seus túmulos, um mais luxuoso que o outro, repletos de mármore e estátuas monumentais.

Porém, é inquestionável que o campeão em luxo e ostentação é o mausoléu da tradicional família Matarazzo, o maior e mais alto da América do Sul, com absurdos 25 metros de altura e 150 m² de área, construído em estilo pós-renascentista e com estatutário em bronze esculpido na cidade de Gênova. Na época de sua construção, o valor da obra era equivalente ao de um hospital.

Apesar de suas proporções, confesso que minha atenção na visita que fiz a este cemitério por motivos turísticos foi dividida também entre outras jazigas e mausoléus, um mais ornamentado e trabalhado que o outro. Vale destacar também o túmulo imponente da família Maluf. Há, sim, classes sociais depois da morte.

Mas, mesmo com todo o luxo, é visível que parte considerável dos túmulos e mausoléus do Cemitério da Consolação está abandonada. Alguns arrombados, outros com vidros quebrados, e alguns totalmente abertos, com riscos para a integridade física de algum visitante mais desligado ou atrapalhado, além de um forte odor em certo local do cemitério. Seja por abandono ou pela decadência de suas famílias, nem mesmo os mortos da Consolação estão livres de serem esquecidos. O ouro não tem o poder de torná-los imortais.

Obs1 - Colaboração e revisão de Rafael Henrique
Obs2 - A foto não é de minha autoria. Não tínhamos autorização para fotografar.

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