26 maio 2017

Realeza Canibal

Dia 25 de maio de 2017

O Rei 1 sofreu um golpe. Eram poucos os plebeus que ainda o apoiava. Faltava-lhe eficiência e inteligência. A plebe não estava contente.

Apesar disso, o golpe não foi uma iniciativa popular, mas orquestrado pelos reis 2, 3 e 4. Ainda que suas diferenças fossem grandes e seus egos equivalentes, se uniram pela máxima "o inimigo do meu inimigo é meu amigo". Inimigo derrotado, sobrou apenas as diferenças. 

Ocupados em resolver suas diferenças, foi o Rei 5 - que ainda não tinha entrado na história - quem ascendeu ao poder, aproveitando-se do vácuo momentâneo. Apesar disso, os Reis 2, 3 e 4 ainda comandavam todo o sistema. O Rei 5 era decorativo. Só ele não sabia disso.

O sistema dos novos reis era mais impositivo que o antecessor. Faltava diálogo, sobrava ordens. A plebe, que já não estava feliz anteriormente, sentia-se cada vez mais fora do jogo. Os outros mandavam e a eles só restava obedecer.


Foi então que se uniram. Democraticamente, lutaram pelos seus direitos. Não queimaram prédios, não fizeram greve, não ergueram bandeiras. Apenas reclamaram ao Rei 5 por mais direitos. E nada mudou. Num sistema onde o diálogo não é considerado, a luta pelo viés democrático é ineficaz.

Porém, ao mesmo tempo em que a plebe lutava em vão por seus direitos, as diferenças entre os reis ficava cada vez mais evidente. 

O Rei 5 ainda estava iludido pelo cargo ilusório que lhe foi conferido. Os  Rei 2 jogava contra o Rei 3 e o Rei 5, e achava que tinha apoio do Rei 4. Mas o Rei 4 não apoiava ninguém, apenas a ele. O Rei 3, por sua vez, fazia movimentos contra o 2 e o 5.

A plebe percebeu que não estava fora do jogo. Eles só estavam sãos. Ao contrário dos Reis. Estes cegos, insanos, loucos e canibais.

A plebe, ainda sofrida, decidiu apenas assistir. Assistiam ao lento e vergonhoso declínio dos Reis. Não havia torcida por nenhum deles. Apenas o desejo masoquista de ver a realeza canibal sangrar. E a cada gota de sangue azul derramada, um sorriso plebeu se abria. A sanidade tem seu preço. A insanidade também.

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