30 setembro 2010

Ensaio Sobre a Morte

Nesta semana vi minha primeira morte.

Trabalho em um posto de saúde de Sumaré. Na última terça-feira estava marcando exames normalmente, até que percebo uma grande movimentação. Duas enfermeiras saem correndo. Minha chefe volta da rua a grita "Danilo, liga pro 192 porque tem uma mulher passando muito mal!".


Liguei para a emergência e descobri, no meio da ligação, que não sabia dar informação alguma à moça do 192. Corri para a calçada para passar o telefone para alguém que estivesse mais por dentro da situação. Do lado de fora vi uma mulher um tanto obesa deitada no chão de uma garagem. Mais tarde fui saber que aquela era a casa dela. Mais tarde fui saber que, por irônia do destino e incompetência médica, ela acabara de receber alta do Hospital Estadual de Sumaré.

Mas a mulher não estava sozinha. Três enfermeiras do posto prestavam os primeiros atendimentos. Um médico que também trabalha comigo fazia massagem cardíaca. Suas duas filhas estavam postas de pé, chorando.
"Ela tem edema pulmonar, é diabética e hipertensa", disse uma das filhas ao médico, ao ser questionada sobre a saúde da mãe. Isso me fez entender mais a fundo a gravidade do caso. E fora nós que estávamos, de alguma forma, tentando ajudar, havia mais de uma dezena de pessoas, incluindo alguns funcionários aleatórios do posto, ao redor do corpo inanimado. Mais que uma possível morte, para alguns aquilo era um show mórbido do qual se deliciavam. Era mais que curiosidade. Era vontade. Vontade de ver. Havia um mistura de expectativa e excitação nas pessoas.

Entreguei o telefone para uma das enfermeiras e saí. Voltei ao meu serviço. Eu não sou médico ou enfermeiro. Não podia ajudar, não queria atrapalhar e... não gosto de Brasil Urgente.

Quase uma hora depois recebemos a notícia que a mulher havia morrido. Não costumo ser muito sentimental e não cheguei a ficar triste, já que não conhecia a mulher. Mas fiquei pensando no quanto a vida é efêmera. Ao presenciar, mesmo que indiretamente, a morte de uma pessoa, acabei me sentindo mais vivo. Esta será uma experiência que jamais vou esquecer. Não somos preparados para a morte. Ser obrigado a encará-la nos faz rever alguns de nossos conceitos.
Que possamos aproveitar todo o tempo que nos resta.
Carpe Diem!

2 Comentários:

Lília disse...

Dan estava com saudades!

Posso te dizer isso, o melhor da vida é viver e cada vez que leio algo como o que vc escreveu aqui hoje eu tenho mais certeza disso!

ederDBZ disse...

Realmente não nos preparamos (e nem somos preparados) para essa questão...

O texto ficou 'do caraleo', muito bom mesmo...!