02 março 2016

Entrevista de Emprego

Dia 2 de março de 2016

- O que eu busco não é necessariamente o que vocês me oferecem. Isso, claro, se, desde o início, superarmos o comer, beber e morar. A busca, em geral, costuma transcender o básico. Viver. Busco viver. Percebe como não procuro o que você me oferece? Dá-me ar condicionado enquanto quero brisa fresca. Envia-me fretado enquanto quero viajar sem destino.  O que procuro não pode ser oferecido aqui. Eu sei disso. Você sabe.
O que procuro, porém, também não posso me oferecer. Tendo isso em vista, questionar sobre essa busca talvez não seja uma forma adequada de iniciarmos essa conversa. Ao menos não em um diálogo franco e aberto. Proponho, então, superarmos desde já as formalidades e falsas aparências criadas desde a entrega do meu currículo. Eu não sou meu currículo. Ninguém o é. Supere isso. E o diálogo, apesar de aparentemente ser com você, é, na verdade, entre mim e uma instituição privada que visa o lucro através de uma mão de obra que seja qualificada o bastante para exercer a função por um valor que seja o mínimo possível. Essa busca, sim, é a real. A minha é apenas ilusão, sonho, devaneio. Estou aqui porque sou aquele que essa empresa busca. Posso desempenhar tais funções de forma adequada, tenho capacidade e estudo, e preciso comer, beber e morar, pois tenho fome, sede e a necessidade de manter meu lar. Tendo isso em vista, minha busca é o que menos importa. A pergunta sou eu quem lhe farei. Eu sou o que vocês buscam?

O entrevistador, desconcertado, responde.

- Bem... de fato seu currículo nos surpreendeu. É bem provável que você seja contratado. Porém, uma última pergunta. Qual o seu maior defeito?

- Sinceridade.

1 Comentários:

A Ex de Murphy disse...

E isso é tudo o que eu gostaria de dizer nas minhas entrevistas rs
Olha, sim, eu preciso pagar as contas, preciso comer, comprar umas roupinhas vez ou outra mas, principalmente, eu gostaria de viver, de reunir histórias boas pra contar além dos biombos e baias do meio corporativo.
E se me permitissem dar uma dica, não acredito que ginástica laboral ao lado do computador, cada um próximo à sua mesa e dinâmicas motivacionais ajudem de fato o desenvolvimento do meu lado profissional em equilíbrio com o pessoal como forma de descobrir novas habilidades e estimular a interação do time.
Sofrer de honestidade seria um defeito maravilhoso.