BRASIL: UMA PANELA DE PRESSÃO (OU ESTAMOS PERDIDOS)

O QUE ACONTECERÁ QUANDO A PANELA DE PRESSÃO EXPLODIR?

(SEM) INSPIRAÇÃO

HOJE ACORDEI INSPIRADO. MAS ACHO QUE EXPIREI.

SOBRE SER CULTO

A VIDA NÃO SE RESUME AO FACEBOOK.

A REVOLUÇÃO DOS MACACOS

SOMOS TODOS MACACOS, ALGUNS MAIS MACACOS QUE OUTROS.

NU

HOJE ME DEU VONTADE DE ESTAR NU.

24 março 2016

Abaporu: comer e vomitar

Dia 24 de março de 2016

Sim, o blog está sendo realmente pouco atualizado ultimamente. Estou eu bebendo e comendo de outras fontes. Nem todas tão construtivas, devo confessar. Mas as ideias e a formação não precisam vir necessariamente do erudito. Esse é um pensamento elitista e pretensioso.

O problema não é nem tanto o que comemos ou bebemos, mas sim o que vomitamos. Perdoem-me a escatologia. Mas uso esses termos com total consciência, já que não existe época mais escatológica que nossos tempos atuais, especialmente no Brasil.
#PraCegoVer - Imagem do quadro Abaporu. Um
homem sentado com as pernas dobradas, e pés e mãos gigantes e segurando sua pequena cabeça com a mão esquerda. Atrás dele existe um cacto com uma flor. // #Inclusion - Abaporu image frame. A man sitting with his bent leg, with giants feet and hand. He is holding his little head with his left hand. Behind him there is a cactus with a flower.

Tive a oportunidade, em janeiro deste ano, de conhecer a capital argentina e, consequentemente, de visitar o MALBA (Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires), onde pude ver de perto o quadro mais emblemático da arte brasileira: o Abaporu, de Tarsila do Amaral. Ou "o homem que come carne humana", em tupi guarani. E, assim como um dos movimentos artísticos mais importantes da história brasileira, o Movimento Antropofágico, iniciado na Semana de Arte Moderna de 1922 a partir dessa obra, o principal não é o conhecimento que nos é oferecido (aquilo que comemos), mas sim a forma como devolvemos esse conhecimento para o mundo (regurgitar é preciso!).


Vivemos um tempo em que a escatologia de O Abaporu se faz necessária. Fiz, alguns anos atrás, um curso onde, antes de qualquer apresentação ou boas-vindas, podíamos ver um cartaz com a seguinte frase: "Não acredite, experimente. Tenha suas experiências pessoais". E isso me marcou bastante. A partir do momento em que temos a consciência de que o monopólio do conhecimento não é nosso; a partir do momento em que nos damos o benefício da dúvida; de que deixamos de julgar a convicção do outro e passamos a analisar criticamente as nossas próprias convicções, sejam elas políticas, espirituais ou esportivas, é que cresceremos. É fácil vomitar o conhecimento do outro. Difícil mesmo é regurgitar o nosso.

Quem melhor pra criticar suas próprias convicções que você mesmo? Assim como o vômito literal, esse também não é muito agradável. Mas em tempos de polarização extrema, a escatologia filosófica de Abaporu pode nos ajudar a, pelo menos, não sermos fundamentalistas arrogantes. Quem sabe, comendo e vomitando, nós não conseguiremos pelo menos uma boa convivência entre nós?

"Ainda quero paz, eu quero alegria
Fazer melodia à luz do luar, la la laiá
Encontrar os amigos, fazer poesia
Deixando a saudade na fotografia
Coisa melhor não há"
(Mr.Catra)
Obs: Eu disse que estava bebendo e comendo de diversas fontes.

#PraCegoVer - Imagem do quadro Abaporu. Um homem sentado com as pernas dobradas, e pés e mãos gigantes e segurando sua pequena cabeça com a mão esquerda. Atrás dele existe um 
cacto com uma flor.


-------- in English --------

Abaporu: eat and vomit

March 23th, 2016

Yes, this blog is being updated infrequently. I am drinking and - why not? - eating from other sources. Not all as refined, I must confess. But the ideas need not necessarily come from the scholar. This is an elitist and pretentious thought.

The problem is not so much what we eat or drink, but what We vomit. Forgive me the eschatology. But I write these terms in full consciousness, since there is no longer eschatological time that our present times, especially in Brazil.

In the last January, I travelled to Argentine capital and, consequently, I visited the MALBA (Latin American Art Museum of Buenos Aires), where I could see the most emblematic picture of Brazilian art: Abaporu, by Tarsila do Amaral. Or, in a Tupi Guarani translation, "the man who eats human flesh". And as one of the most important artistic movements of Brazilian history, the Antropofágico Movement started in the Modern Art Week of 1922 from this work of art, the main isn't the knowledge that is offered to us (what we eat), but how we return this knowledge to the world (regurgitate it takes!).

We live in a time when the eschatology of the Abaporu is necessary. I did a few years ago, a course where, before any presentation, we could see a poster with the following sentence: "Don't believe, experiment. Have your own experiences". That impressed me a lot. From the moment that we are aware that the monopoly of the knowledge is not ours; from the moment we accept the benefit of the doubt; that we fail to judge the conviction of the other and we started to critically examine our own beliefs, whether political, spiritual or sports, we can grow. It's easy to throw up on the knowledge of the other. The hard thing is to regurgitate our knowledge.

Who is better to criticize your own convictions that yourself? Just as the literal vomiting, this is not very pleasant. But in extreme polarization times, the philosophical eschatology of Abaporu can help us to not be arrogant fundamentalists, at least. Who knows, eating and throwing up, we can be able at least one good relationship between us?

"I still want peace, I want happiness
Make melody in the moonlight, la la laia
Find friends, do poetry
Leaving the longing on the photo
best thing there is"
(Mr.Catra)


Note: I told you I was drinking and eating from various sources.

#Inclusion - Abaporu image frame. A man sitting with his bent leg, with giants feet and hand. He is holding his little head with his left hand. Behind him there is a cactus with a flower.

02 março 2016

Entrevista de Emprego

Dia 2 de março de 2016

- O que eu busco não é necessariamente o que vocês me oferecem. Isso, claro, se, desde o início, superarmos o comer, beber e morar. A busca, em geral, costuma transcender o básico. Viver. Busco viver. Percebe como não procuro o que você me oferece? Dá-me ar condicionado enquanto quero brisa fresca. Envia-me fretado enquanto quero viajar sem destino.  O que procuro não pode ser oferecido aqui. Eu sei disso. Você sabe.
O que procuro, porém, também não posso me oferecer. Tendo isso em vista, questionar sobre essa busca talvez não seja uma forma adequada de iniciarmos essa conversa. Ao menos não em um diálogo franco e aberto. Proponho, então, superarmos desde já as formalidades e falsas aparências criadas desde a entrega do meu currículo. Eu não sou meu currículo. Ninguém o é. Supere isso. E o diálogo, apesar de aparentemente ser com você, é, na verdade, entre mim e uma instituição privada que visa o lucro através de uma mão de obra que seja qualificada o bastante para exercer a função por um valor que seja o mínimo possível. Essa busca, sim, é a real. A minha é apenas ilusão, sonho, devaneio. Estou aqui porque sou aquele que essa empresa busca. Posso desempenhar tais funções de forma adequada, tenho capacidade e estudo, e preciso comer, beber e morar, pois tenho fome, sede e a necessidade de manter meu lar. Tendo isso em vista, minha busca é o que menos importa. A pergunta sou eu quem lhe farei. Eu sou o que vocês buscam?

O entrevistador, desconcertado, responde.

- Bem... de fato seu currículo nos surpreendeu. É bem provável que você seja contratado. Porém, uma última pergunta. Qual o seu maior defeito?

- Sinceridade.