28 de abril de 2014
A repercussão da resposta do lateral-direito do Barcelona e jogador da Seleção Brasileira Daniel Alves a um ato de racismo durante um jogo válido pelo campeonato espanhol se viralizou pela internet. Enquanto se preparava para cobrar o escanteio, uma banana foi jogada em direção ao jogador que, sem pensar duas vezes, foi em direção à fruta, descascou, comeu, e cobrou o escanteio como se nada tivesse acontecido. Em apoio à atitude, diversos artistas, atletas, políticos e anônimos aderiram à "campanha" criada pelo atacante da seleção Neymar em sua conta no Twitter, intitulada #SomosTodosMacacos.
A repercussão da resposta do lateral-direito do Barcelona e jogador da Seleção Brasileira Daniel Alves a um ato de racismo durante um jogo válido pelo campeonato espanhol se viralizou pela internet. Enquanto se preparava para cobrar o escanteio, uma banana foi jogada em direção ao jogador que, sem pensar duas vezes, foi em direção à fruta, descascou, comeu, e cobrou o escanteio como se nada tivesse acontecido. Em apoio à atitude, diversos artistas, atletas, políticos e anônimos aderiram à "campanha" criada pelo atacante da seleção Neymar em sua conta no Twitter, intitulada #SomosTodosMacacos.
De repente, o país que passou mais de 300 anos de sua história impondo a escravidão aos negros, e que ainda não conseguiu reparar os estragos decorrentes dela, se tornou a terra dos macacos. De fato, somos um dos povos mais miscigenados do mundo, porém, ainda assim, persiste no Brasil uma profunda desigualdade entre a cor de pele.
Segundo dados do IBGE 2010, no que se refere à renda, os rendimentos recebidos pelos brancos correspondem ao dobro dos pagos aos pretos na região Sudeste, a mais desenvolvida do país. A menor diferença é observada na região Sul, onde a população branca ganha 70% mais que aquela que se autodeclarou preta.
Na educação, enquanto 5,4% dos que se autodeclaram brancos são analfabetos, essa porcentagem sobe para 13% e 14,4% para pardos e negros, respectivamente.
Na saúde, não é diferente. Segundo dados apresentados pela Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) do Governo Federal, 41,5% das mulheres negras com mais de 40 anos nunca fizeram mamografia - contra 26,7% das mulheres brancas com a mesma idade. A desigualdade se estende aos exames de colo de útero (18,4% das mulheres negras nunca fizeram, contra 13% das mulheres brancas).
Isso sem falar nos meios de comunicação, nas referências infantis, cinema nacional, teledramaturgia. De acordo com uma pesquisa realizada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o Brasil, se dividido pela cor da pele, seria dois países distintos. Um, formado por uma população branca, ocuparia a 65ª posição no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Outro, de negros e pardos, estaria relegado ao fim dessa fila, no 102º lugar.
A campanha, vista a olhos inocentes, é bonita, propondo que todos somos iguais. Porém, a realidade, mais cruel, me fez lembrar do clássico livro "A Revolução dos Bichos", do escritor George Orwell. Somos todos macacos, alguns mais macacos que outros.