20 fevereiro 2014

Sempre é sobre nós

Mais do que nunca, chego à conclusão de que sempre é sobre nós. Tudo. E peço perdão, desde já, pela generalização.

Movimentos sociais sempre são sobre eles mesmos. Veículos de comunicação são sempre sobre eles mesmos. A nossa leitura, nossa visão de mundo, nossa música, nossa dança, tende a ser sempre sobre nós.

Martin Luther King, negro, foi o grande líder contra o racismo.

Jesus Cristo, filho de Deus, tinha como principal objetivo transmitir a mensagem de seu Pai.

Napoleão Bonaparte, francês, quis tornar a França o maior império do mundo.

Romário, ex-jogador de futebol e atual deputado federal, tem como pauta principal assuntos relacionados à CBF e Copa do Mundo.

Jean Wyllys, gay e deputado federal, é o principal defensor da causa gay na Câmara dos Deputados.

Jair Bolsonaro, evangélico, ex-militar e deputado federal, é o principal expoente da direita extrema brasileira.

Diogo Mainardi, que é colunista da Revista Veja, nasceu em uma família de classe alta, mora em Veneza (Itália), e tece duras críticas ao Bolsa-Família, programa assistencialista do governo federal, que beneficia pessoas de baixa renda.

Nely Santos Ferreira, diarista e beneficiária do Bolsa-Família, foi entrevistada no programa Veja Entrevista e afirmou que vota sempre no PT e no Lula porque tem medo que com a entrada de outro partido o programa assistencialista acabe.

Eu utilizo transporte público, então participei das manifestações contra o aumento da tarifa de ônibus. Sou funcionário público na cidade de Sumaré, então participei de um movimento grevista com o objetivo de aumento salarial da classe. Utilizo com certa frequência as rodovias que ligam Campinas às cidades vizinhas, então integro o Movimento de Passe-Livre nos Pedágios da RMC. Não há desmérito. Mas da mesma forma, há um certo narcisismo, pois é sempre sobre mim.

Perceba. Não é uma crítica. É uma constatação.

Achamos estranho mulheres do oriente usarem burca; somos ocidentais. Achamos estranho índio andar pelado; somos urbanos. Achamos estranho o candomblé; somos católicos/evangélicos. Achamos estranho a crença em Deus; somos ateus. Achamos estranho transexuais; não temos transtorno de identidade de gênero.

Sempre é sobre nós. E quando não é, nos parece estranho. E o estranho acaba sendo desinteressante, pois ele não nos pertence.

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1 Comentários:

Jorge disse...

Ainda bem que nós não somos todos iguais!!! Os que são se reúnem em grupos e assim em vários grupos debatemos, concorremos, discordamos, explanamos e aprendemos! Maravilhoso texto, mais uma vez ... Parabéns por sempre me fazer pensar!!!! Um enorme abraço!!!! Continue sempre !!!!