18 agosto 2014

A difícil tarefa de ser Ombudsman (ou a Folha melhorou tanto assim?)

Dia 18 de junho de 2014


Imagine-se como o maior crítico de uma empresa. Imagine que você receba para realizar tais críticas. Imagine, agora, que quem lhe pague essa quantia seja a própria empresa alvo de suas críticas. Esse é o honroso e ingrato papel de quem assume a coluna dominical "Ombudsman", que existe no jornal Folha de S. Paulo desde 1989,  ocupado atualmente pela jornalista Vera Guimarães Martins.

De currículo invejável - assim como se espera qualquer um que venha a ocupar tal cargo - Vera é, desde maio deste ano, a Ombudsman do mais importante jornal paulista e, vale a pena frisar, o único periódico brasileiro além do cearense "O Povo" a fazê-lo. Ela é a sucessora de Suzana Singer (2010-2014) e Carlos Eduardo Lins da Silva (2008-2010). Este último, declarou em uma oportunidade que a função é algo "solitário". "Para manter a independência, preferi me afastar fisicamente da redação, evitava me encontrar com pessoas do jornal", disse.

Porém, desde que assumiu o cargo em maio, Vera Guimarães Martins está longe de ter críticas tão incisivas quanto de seus sucessores. Cita em suas colunas apenas alguns exageros, amenidades, análises sobre jornalismo virtual e erros compartilhados entre a Folha e algum outro veículo jornalístico. Mesmo nas críticas mais sensíveis, como em "Faltou transparência, sobrou dúvidas", a jornalista prefere apenas alfinetar e dar um tom ameno ao texto, do que ser enfática. O tom quase informal também é algo que incomoda. Das duas, uma. Ou, de uma hora para a outra, o jornal Folha de S. Paulo parou de cometer erros graves - e, infelizmente, comuns no jornalismo - ou Vera Guimarães Martins ainda não se mostrou disposta a abraçar todos os "contras" intrínsecos ao cargo que lhe foi confiado.

Ao lado do site Observatório da Imprensa e das faculdades de jornalísmo do país, como a UERJ que divulgou recentemente o chamado "manchetômetro", uma análise das manchetes positivas e negativas nos principais veículos de imprensa do país sobre os candidatos à presidência, o Ombudsman se apresenta como um dos poucos espaços críticos sobre a mídia. Apesar de não ter o dever legal de se expor, a Folha de S. Paulo, primeiro veículo a adotar o Ombudsman, tem o dever moral de manter o nível crítico da coluna.

Ombudsman e bom-mocismo são antagônicos. Sua existência é sinal de incômodo. O cargo exige agressividade. Talvez essa seja apenas uma fase de adaptação de Vera Guimarães Martins. Porém, por enquanto, tenho apenas saudade de Suzana Singer, aquele elegante rotweiller que reinou por quatro anos na coluna dominical.

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