09 janeiro 2014

A arte está Dadá

Pergunta: o que Dadaísmo, apresentações de Stand Up e a música "Ai, Se eu Te Pego" (entre outras) têm em comum?

Resposta: Nada. O nada.

Quando o jovem Tristan Tzara, no ano de 1916, idealizou o movimento de contra-cultura chamado Dadaísmo, ou Dadá, não imaginou - e, talvez, nem quisesse - que, depois de quase um século, sua ideia de transformar as obras artísticas em algo vazio fosse de fato se tornar a forma vigente de se fazer cultura.

É claro. É preciso ponderar. Na época em que essa escola foi criada, na cidade suiça de Zurique, durante a Primeira Guerra Mundial, seu grande objetivo era a ruptura com as formas tradicionais de arte, que se preocupavam apenas em retratar o modo de vida burguês. Marcada pela irreverência artística, combate às formas de arte institucionalizadas e ao capitalismo e consumismo, suas obras, que à primeira vista poderiam ser tratadas como banais, possuíam uma carga crítica bastante elevada. E, assim como na época Dadá, vivemos um momento de não-arte. Porém, infelizmente, nesse "Neodadaísmo", o conteúdo crítico da centenária escola artística originada na Suiça foi deixado de lado.

"Fontaine", obra dadaísta de
Marcel Duchamp
Tal como "Fontaine", a obra dadaísta mais famosa de todas, as apresentações de Stand Up, que lotam as casas de shows e teatros do Brasil inteiro, fazem de situações cotidianas e rasas um objeto passível de ser apresentado como arte, ou pelo menos, de dividir o mesmo espaço das artes tradicionais. Teatros do país dividem sua agenda entre apresentações de peças tradicionais e estes.... estes... atores? Humoristas? Um pouco dos dois? É difícil até nomeá-los, pois não são personagens, já que utilizam seu próprio nome na apresentação, mas também não são eles mesmos, pois o público não se preocupa se aquela história banal que está sendo contada é real ou ficcional. A existência ou não da quarta parede pouco importa. O público quer apenas rir. E ri. Ou não. E sai de lá da mesma forma que entrou.

As músicas atuais, como "Ai se eu Te Pego", o maior sucesso em português dos últimos anos, cantada por Michel Teló, não foge à essa regra. O cotidiano banal se transforma em música. Prioriza-se o comum em detrimento de um pensamento mais refinado. Mais que isso, a chamada 1ª arte foi invadidas por onomatopeias, como nas músicas "Tchê tchererê tchê tchê" e "Tchu tchá", lembrando os famosos poemas dadaístas. A proposta desses poemas é simples: pegar uma tesoura e um jornal, e recortar palavras aleatórias, misturá-las, e, com elas, formar um texto desconexo. Essas construções textuais, realizadas quase de forma mecânica, se assemelham às músicas atuais, padronizadas e industrializadas.

A arte está Dadá, mas sem sua genialidade. E aquela arte com caráter crítico, assim como no século passado, faz a vez de contra-cultura que, ironicamente, era o papel do movimento dadaísta. Se antigamente, a produção cultural era mantida pela burguesia, hoje quem a mantém é a indústria capitalista. E a vanguarda artística se faz cada vez mais necessária. A vanguarda é o lugar da verdadeira arte. Uma arte acrítica perde seu principal objetivo: transformar as pessoas.

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